É sabido que o Viajar entre Viagens é um projecto a dois
que envolve a Carla e o Rui. É também mais ou menos sabido, por quem já viajou
com outras pessoas, que viajar a dois não é nada fácil. Há dias em que as
coisas correm mal, há dias em que as coisas correm muito mal e há dias em que
as coisas correm bem. Pois, viajar a dois é isso mesmo, é saber lidar com todos
esses dias e deixar que estes interfiram cada vez menos na relação. Fácil? Não.
Viajar a dois é tudo menos fácil.
Depois de quase 10 anos a viajar juntos, resolvemos fazer um balanço
sobre as vantagens de uma viagem a dois, explicando como conseguimos
sobreviver a tanto tempo, por vezes em viagens de vários meses, em que estamos
juntos 24 horas por dia, sete dias por semana. Aqui vão os nossos conselhos.
1. Escolher um parceiro que
tenha interesses semelhantes
Em viagem há imensas coisas interessantes para ver e fazer. Quando se
viaja a dois tem que se ter alguns interesses comuns e uma forma de estar na
vida semelhante. Isso é determinante para que a viagem decorra com sucesso e
agrade a ambos. Nós conhecemo-nos e cimentamos a nossa relação numa viagem de Inter-Rail e aí percebemos que
conseguiríamos viver juntos. A prova de fogo tivemo-la na Índia, uma viagem a
dois durante dois meses cheios de provações. Percebemos que queríamos coisas semelhantes
e que acima de tudo as queríamos juntos.
2. Ter paciência e ser tolerante
Gerir as emoções é determinante para uma viagem a dois com sucesso.
Em viagem há imensas situações em que nos apetece gritar, berrar e até
discutir. O acumular de emoções pode ser tão grande que quando damos por nós
já estamos afogados em stress. Nessas alturas, as atitudes do outro, a maioria
das vezes meramente comuns, passam a irritar-nos. Isto deve ser evitado. Temos
que ser pacientes.
3. Evitar discutir (por muito
que custe)
É impossível viajar com alguém sem que haja uma discussão, mais ou menos
grave, em determinado momento. Isso é normal e faz parte da experiência de
viajar com outra pessoa. O que é preciso é que ambas as pessoas tentem manter a
cabeça fria e que não deixem que isso interfira na viagem. Tem que se pensar
que são casos isolados que acabam tão rapidamente como começam. A maioria das
vezes, as chatices terminam com uma nova aventura, uma paisagem deslumbrante que nos faz
esquecer tudo ou com um momento intenso em que precisamos de estar unidos para
o ultrapassar. Estes momentos são determinantes para perceber o quanto é
importante estarmos juntos.
4. Aprender a conhecer o outro
e a respeita-lo
As viagens colocam-nos constantemente à prova já que são muitas as
ocasiões em que estamos em situações limite. Já passamos momentos difíceis, em
que não tínhamos tempo para pensar nas nossas reacções e acabávamos por reagir
por instinto e impulso. Estas reacções têm uma grande vantagem: reflectem a
nossa personalidade de forma fiel já que não há tempo para polir as nossas
acções. Muitas vezes acabamos por elevar a voz, ser desagradável com a pessoa
que nos acompanha e descarregar nela as frustrações do dia. Temos que evitar
esses momentos por muito que nos custe. Quando as coisas correm mal, correm mal
para os dois, tentar culpabilizar o outro não resolve. Há que unir forças e
seguir.
Viajar a dois significa que a determinada altura alguém terá que
ceder. Por muito semelhantes que os interesses possam ser, há sempre momentos
em que haverá alguma coisa que não nos apetece fazer, ou simplesmente nos
apeteceria fazer outra. Viajar a dois é precisamente perceber que ambas as
partes têm que ceder. Não pode ser sempre o mesmo a fazê-lo. Devem discutir bem
as opções e chegar a um consenso. Não conseguiram, pois bem, alguém precisa de ceder.
Ceda. Hoje cede ela, amanhã cede ele.
6. Dar apoio e força à pessoa
com quem viajamos
Há muitas situações em que as coisas não correm como estavam previstas
e a forma mais fácil de extravasar as frustrações é despejar com a pessoa que
temos mais próxima. E, quem é a pessoa que temos mais próxima? O nosso parceiro
de viagem! Isto também nos acontece mas é preciso evitar esta tendência. A
primeira grande chatice que tivemos numa viagem aconteceu na Índia. Passamos
semanas difíceis em que nada parecia correr como tínhamos previsto, onde
tentávamos culpabilizar-nos pelo caos da Índia, onde o stress era tanto que não
havia tempo para um abraço amigo e uma palavra de conforto. Foi aí que
falhamos. Não podemos deixar estas frustrações acumularem-se. Temos que as
partilhá-las e ao mesmo tempo dar palavras de apoio a quem toma as decisões,
sejam correctas ou erradas.
7. Conseguir um espaço para
ficar sozinho
De tempos a tempos é importante cada um conseguir um espaço para estar
sozinho. Esse isolamento é perfeitamente normal porque devolve a sensação de
"privacidade". Há determinadas formas de estar sozinhos, quer física,
quer psicologicamente. Para uns poderá ser necessário separar-se durante um dia ou uma
tarde, em que se visitam coisas diferentes, ajustam-se preferências. Outras
vezes, poderá bastar um ficar um bocado sozinho no hotel ou num bar, enquanto o
outro dá uma volta. Por vezes nem será necessário separarem-se. O facto de se
concentrarem e focarem atenção em coisas distintas pode ajudar. Por exemplo
para o Rui, a leitura de um livro fá-lo "viajar" e por alguns
momentos "sair" do contexto em que viajamos. Para a Carla, uma saída
para fazer compras, um passeio para ir tirar fotos ou até a partilha de uma
conversa com estranhos tem o mesmo efeito. O importante é cada um ajustar o seu
comportamento aquilo que serve melhor os dois.
8. Escolher bem quando vai
viajar
Se as pessoas não se conhecem bem a viagem será uma forma fantástica
de se conhecerem. Nós conhecemo-nos nesse contexto. Isto pode correr bem ou mal. Mas, será certamente uma experiência fiel à
compatibilidade do casal. No entanto, se vive uma relação que passa por momentos
difíceis, fazer uma viagem juntos pode não ser a melhor opção. As discussões
tenderão a agravar-se e até atingirem proporções mais graves.
Pode parecer que não tem nada a ver mas a verdade é que rir de nós próprios pode ser o melhor remédio. As coisas correram mal? Ria, goze com a situação, mande algumas piadas. Isso vai deixá-lo a si e à outra pessoa mais à vontade, descontraída e, no fim, isto vai ser só mais uma história de sucesso para contar quando chegar a casa.
Viajar a dois pode parecer difícil mas não é assim tanto. As discussões são normais, fazem parte da viagem e da experiência. O segredo do sucesso, esse
é o mesmo que temos quando estamos em casa: respeito, tolerância e amizade.