Encontro-me a escrever esta crónica junto à
nossa tenda, montada ao lado de um lago, no meio de montes verdejantes, ovelhas
que pastam, mosquitos que esvoaçam, e ribeiros de água que correm em direcção
ao lago mais próximo. O sol, fiel companheiro durante o dia, está quase a
esconder-se atrás de uma montanha. Não há um sinal de presença humana, excepto
uma cerca próxima. Tem sido assim nos últimos dias na Gronelândia.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDq-qfkR4TeA0gkZNuCBJimRlZk14tzOu3lzQ8HxciOVam2nhzSJHXAov-WBwhTP43ss36PwNb9xPEibUyaniJi1mHvBhgvA3C_b6tOMThxN1qKk5ciyo4_hYjfGiPkKibJhrVia7H83A/s1600/IMG_1029.JPG)
Hoje de manhã, acordamos na margem de uma baía
junto a Tasiusaq, repleta de pequenos icebergues, de onde retirei o gelo para
fazer o chá da manhã. A noite foi um pouco fria, mas sem chuva ou vento. Esta
manhã temos planeada uma caminhada para ver a frente do glaciar que liberta
todo este gelo. É um percurso não muito difícil, quase sempre seguindo o
recortado do fiorde, mas o problema é que não temos muito tempo, pois às 12.30h
temos de estar de volta para uma volta de kayak na baía, por entre os
icebergues. Este tipo de meio de deslocação teve origem nos povos nativos da
Gronelândia, por isso é adequado que o façamos aqui, embora por motivos
recreativos.
Saímos só às 8.00h, pois o cansaço não
facilitou o levantar do saco-cama, por isso era preciso andar de forma rápida e
constante, pois a duração do trek era 4-5 h. Durante o percurso fomos passando
por sucessivas baías, com cada vez mais e maiores icebergues, das mais
diferentes formas e tons de azul. O miradouro para ver o glaciar parecia sempre
iludir-nos. Sabíamos que era no colo entre 2 montanhas, mas quando subíamos a
um ponto alto, havia sempre uma colina mais alta à nossa frente.
Apesar do
tempo escassear, teimamos em seguir em frente e finalmente, com 2.15h de
caminho, pudemos vislumbrar ao fundo o glaciar a descer em cascata do manto de
gelo e à sua frente um imenso mar (fiorde) repleto de gelo e icebergues que
cobriam toda a superfície da água.
Nesta zona, teria sido interessante
aproximarmo-nos mais e até poderíamos ver outro glaciar próximo, mas o nosso
tempo estava esgotado. Tínhamos de regressar o quanto antes para estarmos de
volta a Tasiusaq a tempo do kayak. Regressamos, sempre a andar, quase sem tirar
fotos (o que aborreceu, e muito, a Carla!) e chegamos a tempo.
Tínhamos combinado com a empresa espanhola
Tarmisiut Expeditions, em Qassiasurk, e a guia já nos esperava junto a uma
enseada perto da nossa tenda. Depois de uma breve explicação e de vestirmos o
vestuário adequado, lá fomos nós, juntamente com um casal italiano e duas
guias. O percurso é feito lentamente e conforme progredimos, os icebergues vão
sendo mais imponentes e bonitos.
Temos de manter sempre uma distância de
segurança, pois se um icebergue parte, pode virar-se e cair em cima de um kayak
mais aventureiro, ou então as ondas resultantes podem virar o kayak. Mas
seguimos sempre o exemplo das guias e desfrutamos em segurança de um cenário
absolutamente fabuloso. Era uma perspectiva do gelo que nos faltava…
Regressados do kayak, não era tempo de
descanso! Desmontamos a tenda, comemos o almoço (pão, queijo e chouriço) e
partimos para a última caminhada do dia, em direcção a Nunataaq, uma quinta
próxima, também nas margens do fiorde.
O percurso custou-nos pois já estávamos
cansados e tínhamos as mochilas às costas, mas a beleza da paisagem aliviava um
pouco a carga. Rodeamos a baía, aos altos e baixos, seguindo o percurso marcado
nas rochas e ao fim de 1 hora e meia chegamos: a visão de 3 casas indicava que
era Nunataaq.
O único habitante que vislumbramos escondeu-se
dentro de casa quando nos viu ao longe. Os seus cães (amistosos) foram os
únicos que vieram dar-nos as boas vindas. Como no dia seguinte partiríamos de
um ponto mais à frente, subimos a estrada até encontrarmos um bom sítio para
acampar (fora da zona de campos cultivados) e recolher água para cozinhar. E é
aqui que me encontro.
O sol fez a sua despedida e o frio está a
instalar-se. Está na altura de recolher à tenda e ao saco-cama. Amanhã, temos
mais montes, ovelhas e caminhada pela frente. E sem pessoas. A Gronelândia é
assim…