Uma das actividades
mais fantásticas que se pode fazer em Narsarsuaq é o passeio de barco ao fiorde
Qooqqut (ou Qooqot). O passeio custa 76€/pessoa. O barco sai de Narsarsuaq às 9
h da manhã e percorre o fiorde de Erik, um fiorde gigantesco que vem desde
Narsaq até Narsarsuaq. Neste troço há poucos icebergs pois os dois glaciares a
montante (Kiattuut e Qingua) já não desaguam no fiorde. Ambos têm planícies de outwash
e o gelo que se desprende do glaciar acaba por derreter à medida que vai
percorrendo a lagoa e o rio antes de chegar ao fiorde.
O glaciar Qooqqut termina no fiorde pelo que a
fracturação e queda de icebergs (aquilo que se chama de
calving) é
constante durante os meses de verão, libertando cerca de 200 mil toneladas de
gelo por dia.
Nesta altura do
ano, o fiorde fica cheio de icebergs e é necessário um barco especial para
entrar no fiorde. A progressão é lenta porque o barco tem que se ir desviando
dos icebergs e quando estes começam a cobrir quase a totalidade do fiorde, a
progressão deixa de ser possível.
Apesar da maioria
das pessoas associarem esta perda de massa glaciar, através da libertação de
icebergs, ao aquecimento global, a verdade é que este comportamento é
completamente normal. Um glaciar ganha
massa nos meses de Inverno através da acumulação de neve e gelo a montante.
Como o glaciar se move, essa massa de gelo vai descendo em direcção ao fiorde
e, nos meses de verão, o glaciar perde massa através do calving.
Considera-se que um glaciar está em equilíbrio quando a quantidade de gelo e
neve por ele acumulado é equivalente àquela por ele perdido. O que significa
que um glaciar pode perder bastante gelo no Verão, desde que no inverno consiga
ganhá-lo através da precipitação. Assim, é fácil de perceber que quando se vêem
muitos icebergs nos fiordes isso pode não significar que o glaciar esteja a
diminuir.
O glaciar só está
em retrocesso quando perde mais gelo por ablação (neste caso o calving de
icebergs no fiorde) do que aquele que recebe na área de acumulação,
especialmente durante o Inverno.
A maioria dos
glaciares do mundo estão efectivamente a perder massa mas, estranhamente, a
temperatura média da Terra tem aumentado muito pouco até momento (cerca de 0,8ºC
nos últimos 50 anos), o que, muito possivelmente significa que o retrocesso
glaciar pode não se estar a dever apenas a um aumento da temperatura mas
possivelmente também a uma diminuição da precipitação.
Teorias à parte,
uma visita ao fiorde de Qooqqut é um investimento duplo: por um lado permite
testemunhar o
calving de um glaciar que ainda desagua num fiorde (ao
contrário de tantos outros no sul da Gronelândia), por outro lado permite
navegar num fiorde cheio de icebergs e observar os seus movimentos na água.
Estas são sensações
extraordinárias especialmente porque estes “monumentos naturais” são
extremamente frágeis e pequenas flutuações climáticas, quer ao nível da
precipitação, quer ao nível da temperatura, podem alterar a sua dinâmica e
levá-los a uma situação de desequilíbrio.