A Rota Vicentina é uma grande rota pedestre, inaugurada em
2012, que cruza o Sudoeste de Portugal e a chamada Costa Vicentina, totalizando
350 km, e estando dividida em dois grandes percursos denominados Caminho
Histórico e Trilho dos Pescadores. O primeiro percorre as principais vilas e
aldeias entre a cidade de Santiago do Cacém e o Cabo de S. Vicente, constituído
por 12 etapas (com um máximo de 25 km), num total de 230 km. Trata-se de um
itinerário rural que também pode ser percorrido de BTT, e que privilegia a
vertente histórica. O segundo é um percurso que segue sempre junto ao mar,
tendo por base os caminhos que os locais, especialmente os pescadores, usam
para aceder às praias e falésias. Só pode ser percorrido a pé, dada a
quantidade de areia em algumas secções do percurso, assim como a proximidade de
falésias com uma altura considerável. A propósito, não é recomendável a pessoas
com vertigens! Inclui 4 etapas de um dia, com um máximo de 22 km, e 5 circuitos
complementares, num total de 120 km.
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Mapa Geral da Rota Vicentina - http://www.rotavicentina.com/ |
Foi o
Trilho dos Pescadores que nós resolvemos explorar.
Dada as limitações de tempo, sabíamos que não poderíamos fazê-lo na sua
totalidade (quem sabe, um dia!), por isso escolhemos duas etapas que
consideramos representativas da Rota Vicentina. Como nossa primeira etapa,
escolhemos o troço entre a Zambujeira do Mar e Odeceixe. É um percurso de 18
km, com uma duração estimada de 7h, e com um grau de dificuldade médio.
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Carregar na foto e no mapa para ampliar. Pode fazer o download do percurso aqui. |
A nossa base foi o
Hakuna Matata Hostel, na Zambujeira do
Mar. No final do percurso, regressaríamos aqui, de boleia (se conseguíssemos),
de autocarro (se existisse), ou de táxi. Foi também no hostel que arranjamos
companhia para o percurso: um americano, chamado Evan, e uma uruguaia, de seu
nome Marcela.
O dia da caminhada começou com o céu cinzento e o ar fresco.
Eram boas notícias em termos de temperatura, pois o caminho torna-se difícil
com altas temperaturas, mas eram más notícias no que toca às fotos e beleza da
paisagem! Felizmente, cedo o céu ficou azul e pudemos partir, depois de nos
abastecermos de água e comida, e tomando os cuidados necessários quanto a
protector solar, pois o sol do Alentejo não perdoa!
Iniciamos o nosso percurso na Capela de Nossa Senhora do
Mar, descendo imediatamente em direcção à praia da Zambujeira. Subindo o trilho
que segue pela falésia, iniciamos um périplo que nos levaria por uma sucessão
maravilhosa de enseadas, rodeadas de falésias impressionantes, e banhadas por
um oceano de azul intenso. A vegetação é rasteira, mas colorida, o que dá mais
um toque de beleza à paisagem.
As rochas que constituem as falésias estão dispostas por
estratos bem distintos e visíveis. Aquando da sua formação, os estratos estavam
na posição horizontal, sobrepondo-se pela demorada sedimentação de materiais.
Hoje, os mesmos estratos estão numa posição completamente diferente, graças às
forças gigantescas do movimento de placas tectónicas, assumindo formas de
dobras absolutamente surpreendentes, ou então transformados em paredes
inclinadas, muitas vezes até numa posição praticamente vertical!
O único elemento da paisagem que rivaliza em beleza com as
falésias são as praias. Passamos por uma sucessão de praias, umas sem areia e
só com rochas e pedras, outras com areal mais ou menos extenso. Estas últimas
têm sempre presença humana, neste verão alentejano, mas muito longe das
multidões das praias da costa sul do Algarve. Este é sem dúvida um dos encantos
da costa alentejana e vicentina, dando-lhe um ar selvagem e quase intocado.
Durante
o nosso percurso passamos pela bela praia do Carvalhal, e pela famosa praia da
Amália que, como o nome indica, era o refúgio preferido da diva portuguesa. Um
pouco mais a sul, ao km 9,5 chegamos à aldeia de Azenha do Mar. Aqui resolvemos
fazer a pausa de almoço e descansar um pouco, pois o calor começava a apertar.
O americano estava maravilhado com a paisagem, mas decidiu que já tinha
caminhado o suficiente e decidiu voltar de táxi para a Zambujeira. O agora trio continuou ao início da tarde, junto ao porto de
pesca natural da Azenha do Mar. Daqui para a frente, o percurso é feito
maioritariamente sobre caminho dunar, com alguma areia que dificulta a
progressão. Estas dunas-fósseis são o que restou daquelas que no passado se
formaram sobre as falésias. O calor fazia-se sentir, e a areia não ajudava, por
isso o caminho foi sendo feito mais lentamente.
A apoteose do percurso deu-se aquando da chegada à Ponta em
Branco, uma falésia assim chamada pela cor dos sedimentos que formam a sua
coroa. É uma visão impressionante e é um justo e merecido prémio para o
caminhante que chegou até aqui. A algumas dezenas de metros abaixo, a ribeira
de Odeceixe desagua no oceano, rodeando a língua de areia que constitui a bela
praia de Odeceixe. Os poucos edifícios brancos da aldeia na encosta do outro
lado acrescentam valor à paisagem e pudemos reconhecer o local onde tínhamos
almoçado ainda no dia anterior, quando percorremos a costa de carro.
Era o momento obrigatório para uma selfie que
retratasse o trio triunfante. Mas o caminho ainda não tinha terminado… Ainda
faltava descer a falésia até ao nível da ribeira e seguir pelos 4 km de estrada
asfaltada em direcção à ponte que liga à vila de Odeceixe, do outro lado da
ribeira. Aqui, resolvemos tentar a nossa solução para o caminho de volta, mas a
boleia não resultou e os autocarros não servem estas bandas…
Sendo assim, não
nos restou outra hipótese senão chamar um táxi que nos levou de volta ao ponto
de partida deste percurso espantoso. Regressamos cansados mas felizes. E
maravilhados com o que tínhamos visto. E como pudemos verificar no nosso
pequeno grupo, a beleza da paisagem portuguesa deslumbra qualquer
nacionalidade.