Diz a lenda que…
Um menino órfão foi perdido numa
montanha. Um dia, um machado mágico conduziu-o à pirâmide dos nichos. Lá, 12
homens velhos adoptaram-no e disseram-lhe para não tocar em nada. O menino não
obdeceu e abriu um tronco misterioso que continha todas as roupas que os deuses
usavam. Vestiu a roupa que mais gostou - uma, de facto, pertencente ao deus
Calimaxtla. Na roupa havia uma espada brilhante que produzia raios e trovões
quando desembainhada. Enquanto ele brincava com a espada, rodopiando-a no ar,
saltando de uma nuvem para outra, começou a fazer inundar os rios e a destruir
as cidades. Completamente enfurecido, o homem velho amarrou-o num arco-íris e
atirou-o para o fundo do oceano com a promessa de que só o desatariam para
brincar no seu aniversário, 24 de Junho. Esta data coincide com a chegada da
estação das chuvas na região.
Esta é a lenda transmitida
através de gerações de Totonacas pela região de Veracruz e está exibida nas
paredes da zona arqueológica El Tajín.
Foi para visitar as ruínas
arqueológicas de El Tajin que nos levantamos cedíssimo, apanhamos um autocarro
na estação norte da Cidade do México e fizemos uma viagem de 5 horas para Poza
Rica. Aí, apanhamos outro autocarro até à entrada das ruínas. A viagem é
cansativa mas vale bem a pena.
El Tajin é Património Mundial da
Humanidade desde 1992 e corresponde à capital da Civilização de El Tajin.
Apesar de não se saber muito sobre esta civilização, as semelhanças entre estas
construções e as de Teutihuacan são evidentes, o que leva alguns arqueólogos a
pensar que terão feito parte da mesma civilização.
A zona arqueológica tem
evidências de construções que se terão iniciado no século I e terão continuado
até ao século XIII. A civilização acabou por desaparecer e a cidade foi
abandonada e engolida pela floresta. O geógrafo Alexander Von Humbolt passou
por aqui no século XIX e documentou-a.
Mas muito antes já alguns espanhóis tinham feito várias referências e
descrições do local.
El Tajín tem um centro cerimonial
com cerca de um quilómetro quadrado No entanto, as escavações levadas a cabo inicialmente na
década de 40 colocaram pouco a descoberto. Na década de 60 voltaram a existir
novas escavações e na década de 80 obras de restauro. Estima-se que uma grande
parte das ruínas de El Tajín ainda estejam enterradas e preservadas pelas
camadas de sedimentos que se espalham por mais de 10 km2.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEgto9zziarDJ6ra8TfK-JOIEr0qwf1ZulpA7sNMjA3xnipYltWu2LJjI2dYd-ZN3XqTnGn3Db0xPDFIAHRdG4wt4zBlNk1aIRgFnDpREF1kRVli04ZjvuPJC2qJMfC2aY7utVBfMohY2a/s640/SAM_9039.JPG)
Na entrada existe um museu
dedicado ao local e aos Voladores, um antigo ritual dos povos Totonaca e Nahua.
O museu reúne alguns artefactos recolhidos no local com explicações em inglês e
espanhol. Por dia pode-se assistir a duas ou três actuações do ritual dos
Voladores na entrada do complexo. Cinco homens vestidos com trajes tradicionais
sobem a um poste com cerca de 30 metros de altura. Este poste simboliza a
ligação entre o Céu e a Terra. Um dos homens fica no topo tocando tambor e
flauta de cana e os restantes atiram-se para baixo, descendo lentamente à
medida que as cordas rodam à volta do poste. Cada volador dá treze voltas ao
poste antes de chegar ao chão. O conjunto dos quatro homens perfazem 52 voltas,
número que representa os anos do calendário maia mesoamericano.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhyphenhyphen4SvSikr4FF2XN1-_39UwuuRVVx8jYnQfhjjLEh8r9WY9_Rrmg8-womg9dcZhpC_tGrX2ffkbcf3A43clWlQY-MbLU6-1OIU31tGhLOZQM4U0ouT68DkRrj23NxWlTQrF_Oa65DnmX1J/s640/IMG_1298.JPG)
Quando se entra no complexo
percebe-se que está repleto de pirâmides. A primeira grande área comum é a
Plaza del Arroyo, ladeada por quatro grandes pirâmides que estão orientadas
para os quatro pontos cardeais. Dos edifícios
escavados, esta é a área mais antiga do complexo. Aqui tem início o centro
cerimonial e religioso de El Tajín. O complexo tem várias pirâmides e
palácios. Entre eles existem vários campos de jogo da bola. O campo de jogo da
bola sul tem nas paredes laterais seis painéis em baixo-relevo que ilustram os
rituais do jogo e guerreiros, incluindo rituais de sacrifícios humanos dos
jogadores e uma orgia. Na pirâmide que está ao lado do
campo da bola sul existe uma estátua do deus Tajín, o deus dos trovões e dos
relâmpagos. É em sua honra que a cidade tem o este nome. A Pirâmide dos Nichos, com 6
níveis e mais de 20 metros de altura, é o edifício mais importante do local. No
topo existiu um templo que está praticamente todo destruído. A pirâmide tem 365
nichos distribuidos pelos degraus. Tantos como os dias do ano do calendário
solar. Será coincidência? Pensa-se que estes nichos serviriam para colocar oferendas
aos deuses.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjecZHu0JmoQjVYYY1lbgVwRQHiDQB4G9bjv6s92UkNLlXh07r03iFpcNLbmsCstZV-Mg7VeyK0NnTmffP70vFU5RNvxWPVGKvv8wIeACyU043qj-42ws-a3iYoD2tBvI9ZAXlwIU3Q29xb/s640/SAM_9085.JPG)
O El Tajín Chico corresponde à
parte norte do complexo e inclui vários campos de bola e edificios com
baixos-relexos e pinturas impressionantes. A praça e edifício das Colunas é,
provavelmente, o mais emblemático. Estas colunas são gigantescas e têm mosaicos
com motivos semelhantes aos de Mitla, nas proximidades de Oaxaca. Em direcção à extremidade norte
do complexo alcançamos o Grande Xicalcoliuhqui, uma obra de talha entrelaçada
que os arqueólogos associam ao deus Quetzalcoatl, o mais célebre deus mexicano
e também adorado pelos Maias. A sua forma é a de uma serpente emplumada
(mistura de quetzal e de uma cobra-cascavel). No final da visita regressamos a
Poza Rica e daí à Cidade do México. Saimos de manhã do hostel eram 5.30h e regressamos
às 23 horas. Isto é o que se chama um dia em cheio. Caimos na cama como pedras
para dormir apenas algumas horas. O dia seguinte reservar-nos-ia novas
conquistas.