Bosquímanos, os senhores do Kalahari

Os bosquímanos são os habitantes indígenas do deserto do Kalahari, área que ocupa grande parte do norte da África do Sul, Namíbia e Botswana. Também conhecidos por San, foram eternizados no filme "Os deuses devem estar loucos" e desde essa altura a sua cultura foi dada a conhecer ao mundo. 


Durante a nossa viagem pelo Kalahari contactamos com vários bosquímanos, especialmente na Namíbia, na área de Spitzkoppe e na Faixa de Caprivi, mas foi no Botswana, nas proximidades de Ghanzi que visitamos uma comunidade bosquímano e, com a ajuda de um tradutor, conhecemos melhor a sua cultura. 


Habitantes duma área extremamente árida, os bosquímanos desenvolveram técnicas de sobrevivência ancestrais que passaram de geração em geração e que são o segredo da sobrevivência deste povo. As agruras da vida numa das regiões mais áridas do planeta levou-os a ser duros com a vida e com os seus. Os bosquímanos são povos nómadas e vão percorrendo o deserto em busca de lugares onde possam praticar alguma agricultura, colher alguma água e sobreviver. Nas imensas viagens que empreendem só os mais fortes sobrevivem. Quando as crianças são muito frágeis e põem o grupo em perigo são deixadas para trás, servindo muitas vezes de alimento aos predadores da estepe africana. As mulheres não podem chorar a perda desses filhos. Devem mostrar-se indiferentes e encarar essa perda como necessária para o bem do grupo. 


Os terrenos do Kalahari são especialmente estéreis, onde os rios temporários se inundam de vida aquando das chuvadas decanuais, mas onde normalmente apenas existe pó e areia. Para reservar água, os bosquímanos utilizam ovos de avestruz com um pau que serve de sinalização, que enterram no deserto. Tudo o que lhes permite sobreviver é dado pela natureza.


Profundos conhecedores das raízes e tubérculos do deserto, os bosquímanos utilizam as raízes das plantas para se alimentarem, como medicamentos e como arma de defesa. As plantas venenosas e os venenos de escaravelhos e escorpiões são usados para envenenar as setas e flechas de caça. Alguns tubérculos e raízes permitem prevenir a malária e são usadas para contracepção, como nos contam as mulheres da aldeia que visitamos. Aqui, tudo vem da Natureza. 


Este povo, tradicionalmente caçador-recolector, também já trocou a vida nómada pelo sedentarismo. A maioria abandonou a vida numa aldeia temporária no Kalahari pelas cidades e começam a fixar-se e a mudar os seus hábitos culturais. Os "homens do mato" (tradução de bushman) são cada vez mais assediados pelos novos hábitos sociais e a cultura começa a perder-se. Só o turismo parece conseguir evitar uma perda mais rápida. 


A história genética dos bosquímanos aponta para um dos povos mais antigos da Terra e para uma ligação muito próxima com as mais antigas comunidades humanas que habitaram o planeta. As mulheres bosquímanos apresentam um crescimento anormal das nádegas e a par com a sua tonalidade negra-amarelada torna a sua identificação bastante fácil. 


Os bosquímanos podem ainda não ter desaparecido mas a sua cultura está fortemente ameaçada. As solicitações da globalização crescente tem tido efeitos verdadeiramente arrepiantes na sua cultura. Não se lhes pode pedir que ignorem os progressos tecnológicos e sociais do mundo, mas, quando olhamos para eles, percebemos claramente que somos uns privilegiados por termos conseguido testemunhar algo que muito poucos conseguirão ver no futuro. 


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