As Svalbard são um arquipélago que
pertence à Noruega e que se localiza no coração do Árctico entre os 74
0
N e os 81
0 N de latitude, bem próximo do pólo Norte. A pouco mais de
1000 km do Pólo Norte, Svalbard é território gelado mas que, apesar de possuir
um clima polar árctico, muito seco e frio, é influenciado pela Deriva do
Atlântico Norte, uma corrente com origem na corrente quente do Golfo e que
torna parte deste arquipélago com temperaturas menos extremas. Assim, lugares à
mesma latitude na Rússia ou no Canadá possuem temperaturas médias mais baixas
20
0C do que a parte ocidental das Svalbard. Ainda assim, nas
Svalbard, as temperaturas médias de Verão rondam os 5
0C e no Inverno
os -15
0C. A particularidade climática da região explica a presença
humana esporádica há mais de 400 anos.
O frio intenso e a presença
constante de gelo fazem das Svalbard um dos lugares da Terra com maior
cobertura de glaciares no seu território. Cerca de 60% do arquipélago está
coberto por gelo permanente, e menos de 10% da massa terrestre não tem qualquer
vegetação. Assim, os glaciares são os “senhores” das Svalbard.


Um glaciar corresponde a uma massa de gelo terrestre que flui por acção da gravidade e é limitada por tensão interna e atrito na base e nos
lados. Um glaciar é mantido pela acumulação da neve nas altitudes elevadas e equilibrado pela fusão a
baixas altitudes ou descargas
para o mar. Sendo assim, os glaciares
correspondem a massas de gelo terrestre em movimento que resultam da
acumulação, compactação e recristalização da neve. Movem-se devido ao seu peso
e este movimento, que se estima, em termos médios, oscilar entre 5 e 50 m por
ano, variando nas diferentes partes do glaciar.


As paisagens glaciadas do mundo
são efectivamente um dos grandes legados dos climas passados. Estes gelos
testemunham paleoclimas que há muito deixaram de existir no planeta Terra e que
só pontualmente encontram condições para a sua preservação. No entanto, os
glaciares que cobrem parte do planeta são muito distintos. Os glaciares polares
são diferentes dos glaciares de montanha, assim como os glaciares da Islândia,
por exemplo, são diferentes dos glaciares dos pólos. Quando se fala em
glaciares e zonas geladas é necessário compreender do que estamos a falar.

Os Mantos de Gelo (ice sheet) correspondem a gelos continentais
e situam-se a latitudes elevadas, ocupando áreas extensas (ex. Antárctida e
Gronelândia). Distinguem-se das Calotes
de Gelo (ice caps),
também glaciares continentais, cuja área total é inferior a 50 000 km2
(ex. Islândia e Svalbard). Tanto as Calotes de Gelo como os Mantos de Gelo
correspondem a massas de gelo que submergem a paisagem, pelo menos numa posição
central, exibindo domos de gelo, e a maioria dos padrões de fluxo são independentes
das ondulações do leito. Portanto, quando no verão de 2014 estivemos na
Gronelândia, andamos nos Mantos de Gelo, ao passo que aqui nas Svalbard estamos
a explorar as Calotes de Gelo.
Mas, no que toca a glaciares, há ainda mais diversidade. Os Campos de Gelo (ice fields), como os Campos de Gelo Sul na Patagónia Argentina, diferem das Calotes de Gelo (ice caps) já que não possuem uma superfície tipo domo gelado e o seu fluxo é influenciado pela topografia subjacente. Os Glaciares de Vale, mais comuns nas latitudes médias, correspondem a situações em que o gelo é descarregado a partir de um Campo de Gelo ou de um circo glaciar para um vale rochoso. A principal característica dos glaciares de vale é a presença de vertentes rochosas voltadas para a superfície do glaciar. Estas vertentes são fontes importantes de acumulação de neve e gelo formando avalanches e queda de rochas na superfície do glaciar. Os glaciares de vale encontram-se a grandes altitudes, no cimo de montanhas, confinados a vales (ex: Alpes, Andes, Himalaias, etc.).
Assim, nestes dias que passamos
nas Svalbard, decidimos explorar as Calotes de Gelo polar.