No nosso último dia de circuito pela região, o
nosso destino era a cidade de Narsaq, a 2ª maior cidade do sul da
Gronelândia, com cerca de 1700 habitantes. Acordamos em Silisit, e após
tomado o pequeno-almoço e organizadas as mochilas, estávamos prontos para
apanhar o barco que nos levaria a Narsaq. Seria também o nosso
reencontro com as nossas duas outras mochilas que tínhamos deixado há seis dias
no Blue Ice Café, em Narsarsuaq, e que viriam no barco ter
connosco (estávamos nós a fazer figas…).
Quando às 9.00h descemos para o local de
embarque, a nossa anfitriã, Edna, juntou-se a nós e ainda tivemos tempo
de conversar um pouco. Ela e a família passam aqui o ano todo, de verão ceifam
o feno e recebem turistas, de inverno reúnem as ovelhas e sobrevivem ao clima
rigoroso que por vezes isola a quinta, gelando as águas do fiorde e impedindo a
navegação.
A viagem entre Silisit e Narsaq
é muito bonita, tenso sempre como pano de fundo os icebergues e as vertentes do
fiorde, e dura entre 45 minutos e 1 hora. Antes de chegar ao porto, vemos já
sinais de civilização: cabos de alta tensão atravessam de um lado para o outro
do fiorde.
A cidade tem claramente uma dimensão diferente daquela que já nos
tínhamos habituado na Gronelândia, mas tem uma disposição harmoniosa com a
paisagem circundante, tendo a quase totalidade das construções no máximo 1
andar e rés-do-chão, com a excepção de alguns prédios que se distinguem no “skyline”. A maioria das casas é de madeira e estas são pintadas
com cores vivas (vermelho, azul, amarelo ou verde), colorindo a paisagem e
fundindo-se com as montanhas verdejantes.
Saímos do porto e dirigimo-nos à Guesthouse
Nirvirsiaq, gerida pelo casal do Hotel Narsaq. Ficamos num quarto
com uma vista fantástica para o fiorde mas saímos logo a seguir para fazer
compras e dar uma volta pela cidade. Ao contrário da última semana, pudemos
desfrutar de supermercados, uma caixa ATM, mercearias e um mercado de peixe.
Como estaríamos na cidade quase dois dias completos (apanharíamos o ferry para
norte no dia seguinte às 21.30h) e a Guesthouse tinha uma boa cozinha,
decidimos caprichar na comida caseira.
Sendo assim, programamos três refeições em
casa, sendo uma delas especial: na Gronelândia, sê gronelandês, por isso
resolvemos experimentar carne de foca e baleia, comprada no mercado de peixe.
Estes dois animais formam a base da alimentação dos locais, sendo a sua carne
muito rica em proteínas.
Como não tínhamos grelhador, experimentamos frito em
manteiga e temperada apenas com sal e um pouco de pimenta. E que bem que nos
soube! A carne de baleia sabe mais a mar, e ambos gostamos mais da carne de
foca, mais saborosa e tenra.
Aproveitamos o tempo na cidade também para pôr
o trabalho do Viajar Entre Viagens mais em dia e para dar notícias para casa.
Narsaq foi assim
um porto seguro e acolhedor na transição entre duas fases diferentes da nossa
viagem: das caminhadas e campismo no sul, para uma viagem de ferry de 5 dias
que nos levaria 1200 km (e oito graus de latitude) mais a norte na Gronelândia,
atravessando o Círculo Polar Árctico e aproximando-nos do verdadeiro árctico.