Com as mochilas
grandes guardadas no Blue Ice Café, tivemos que nos restringir a duas mochilas
que levam tudo aquilo que iremos precisar para 6 dias de trek em autonomia.
Essa tarefa seria simples não fossem os sacos-cama snow-leopard da TheNorth Face, com isolamento Climashield, ocuparem mais de metade de cada mochila. Assim, com tenda,
tachos, gás e apenas uma muda de roupa para dormir, as mochilas ficaram cheias,
deixando muito pouco espaço para a comida. Optamos por levar o mínimo de comida
possível e tentar comprar nos povoados que fossemos passando pelo caminho.
Mochilas prontas,
despedimo-nos do John no porto e apanhamos o barco para Itilleq. Uma hora
depois atracávamos na pequena baía. À nossa espera estava um rapaz do Gandar
Hostel, o hostel onde vamos dormir esta noite em Igaliku, ao qual passamos as
mochilas, permitindo-nos ficar apenas com uma barra energética e a roupa do
corpo de forma a fazer o trekking das quedas de água.
De Itilleq a
Igaliku são apenas 4 km de estrada de terra batida, mas nós resolvemos não
fazer esse percurso e, em vez disso, seguir um trilho de trekking que se inicia
numa quinta verdejante e florida, seguindo pela margem do fiorde de Erik até
alcançar as quedas de água. Seriam, na teoria, cerca de 17 km.
Passamos uma
primeira queda, que tivemos que transpor, e depois encontramos o rio principal,
o qual seguimos sempre em direcção ao lago 380 (que por acaso no nosso mapa
aparece cartografado à cota 375). Esta parte do percurso é fantástica e
começamos a cruzar várias cascatas pelo caminho, umas mais altas, outras menos,
algumas bastante interessantes, nomeadamente um troço em que a água escorre
sobre um filão de quartzo e quartzito com vários rápidos.
A subida das quedas
é algo cansativa já que se ascende cerca de 400 metros de desnível até alcançar
a borda do lago. Quando chegamos ao lago, já cansados, paramos nas suas margens
e aproveitamos o belíssimo dia de sol para relaxar e almoçar (a dita barra energética
que desapareceu num ápice).
Mas, o percurso
tinha que continuar. Daqui para a frente seria ainda mais difícil. O mapa dava-nos
um trilho que passava na base da montanha de Nuuluk (824 m) mas nós nunca
conseguimos encontrá-lo. Subimos as montanhas circundantes, sensivelmente até à
cota 600 m, mas só encontrávamos escarpas altíssimas e onde a descida era, para
além de vertiginosa, perigosa com rochas completamente polidas. Sendo assim,
subimos um pouco mais até chegar a um local onde pudemos ver o estradão que
liga Itilleq a Igaliku e “desenhar” um trilho possível para interceptá-lo. A
subida foi extenuante.
Alcançamos uma
ravina e foi por aí, entre rocha fracturada e solta, com alguns pedaços de
rocha polida, que descemos a montanha. Mas, para chegar ao estradão ainda havia
que cruzar uma turfeira activa, com tufos de gramíneas e completamente alagada.
Passada a turfeira chegamos finalmente ao estradão de terra. Com o entusiasmo
de ter alcançado terra firme dei um passo em falso e enterrei uma perna em lama
até ao joelho. Nada de especial. Com o calor do dia, a lama rapidamente secaria
e seria fácil de tirar.
Seguimos o estradão
e alguns quilómetros mais à frente chegávamos ao miradouro de Igaliku. Que
vista soberba! Igaliku é uma típica povoação do sul da Gronelândia, com 40
habitantes e pouco mais do que uma dezena de casas coloridas. É um lugar lindo,
rodeado de campos verdejantes e floridos na margem do fiorde de Einar, com
águas azuis turquesa.
Com apenas uma
barra energética ao almoço, não resistimos a parar no café do hotel de Igaliku
e a comer umas sandes. Estávamos completamente famintos e fracos depois de 7
horas de caminhada e cerca de 20 km caminhados.
Relaxados, voltamos
a pegar nas mochilas, atravessamos o povoado e chegamos ao nosso refúgio, onde
tomamos um maravilhoso banho, preparamos o jantar e descansamos. Amanhã seria o
2º dia de trek e as dormidas em refúgios chegavam ao fim. A partir daqui,
ficaríamos na nossa tenda.