A América Central é a região do mundo limitada a norte pela Península
do Iucatão, a sul pelo canal do Panamá, e a oeste a leste pelos oceanos
Pacífico e Atlântico, respectivamente. A região é vulcânica porque situa-se na
orla do Anel de Fogo do Pacífico, e as montanhas são todas vulcões, muitos
extintos, outros adormecidos, alguns ainda activos. A montanha mais alta da
América Central é o vulcão (extinto) Tajumulco, cujo cume se situa 4220 m acima
do nível médio da água do mar.
Surpreendentemente, subir ao ponto mais alto da América Central é
muito simples. O grau de dificuldade da subida, apesar do efeito da altitude na
parte final, torna este empreendimento acessível a qualquer pessoa com um
mínimo de condição física. Diria mesmo, o Tajumulco é uma montanha para um
passeio em família (mas, de preferência, não na época das chuvas!).
E foi quase em família que o fizemos, acompanhados do Luís (o
empregado do hostel "Celas Mayas - Spanish school" e também da
agência Icaro Tours, e agora nosso guia), da Tânia (uma rapariga por ele
convidada e professora de espanhol na escola), e uma cadela magricela que nos
acompanhou fielmente desde o início da subida até à chegada do dia seguinte.
Escolhemos fazer uma subida em dois dias. Pode-se subir, fazer cume e
descer num só dia, mas na época das chuvas é quase obrigatório fazê-lo em dois,
de forma a estar-se no cume ao amanhecer, para poder (com boas probabilidades)
desfrutar das vistas com céu limpo. Cada "casal" carregou o seu
equipamento (tenda para 2, plástico para cobrir a tenda e sacos-cama), bebida e
comida.
Iniciamos a subida por volta das 11 da manhã, no povoado de Tajumulco,
até onde nos tínhamos deslocado em duas viagens de autocarro, passando pela
cidade de San Marcos. Esta aldeia situa-se a cerca de 3200m, logo o desnível
que seria feito até ao acampamento onde passaríamos a noite seria
"apenas" de cerca de 800m. A um ritmo relaxado e com paragens
frequentes, inclusive para almoço, seguimos inicialmente por uma estrada que
serpenteia até acabar a meia encosta, para depois tomarmos um trilho pelo
bosque, que nesta zona não é mais do que um dos muitos canais de escoamento de
águas da chuva.
O terreno é um pouco inclinado, mas às zonas mais difíceis sucede
sempre terreno mais plano. E, afinal de contas, pode-se sempre descansar
regularmente! O que não pudemos fazer, foi apreciar a paisagem, pois a montanha
encontrava-se debaixo de uma neblina algo cerrada. Estávamos apreensivos quanto
ao que poderíamos ver no cume...
Depois de almoçarmos numa clareira do bosque, em terreno pouco
inclinado, retomámos o percurso. A conversa com os nossos companheiros
facilitou a passagem do tempo e tornou a subida muito mais agradável, sendo que
o ritmo de progressão foi sendo mais ou menos o de um passeio de fim-de-semana.
A paisagem é quase mediterrânica e lembro-me inúmeras vezes do meu
Trás-os-Montes...

Por volta das 16.00 h, chegámos a uma zona na orla do bosque, perto de
onde a vegetação desaparece e dá lugar apenas a rochas e terra. Estamos a cerca
de 4000 m, e montamos o acampamento. Depois das tendas montadas, e material
arrumado no seu interior, recolhemos alguma lenha e tentamos fazer fogo. Digo "tentamos",
pois o tempo estava cada vez pior e começou a chover. Recolhemo-nos nas tendas,
para nos protegermos do frio. A verdade é que, como bons montanhistas de
domingo, o material que trouxemos (da agência) não é de qualidade suficiente
para as condições atmosféricas que iríamos enfrentar nessa noite, nomeadamente
no que se refere a sacos-cama e isoladores.E a montagem da tenda, associada ao
efeito da altitude, tinha-me deixado com dor de cabeça...

A chuva caía regularmente, o frio intensificava-se e ouviam-se
trovões. Resolvemos comer alguns snacks, tomei uma aspirina, e dissémos ao Luís
para esquecer o jantar! Enrolámo-nos nos sacos-cama e tentámos dormir. Mas não
foi fácil... Mas na montanha é mesmo assim, para se poder alcançar algo bonito,
é preciso sofrer! E quanto mais se quer alcançar, mais se tem de sofrer...
No dia seguinte, acordamos às 4.30 com o Luís a dizer que o tempo
estava lindo! Vestimo-nos e iniciamos a subida depois de comermos um chocolate
(o pequeno-almoço ficaria para depois da descida). Conforme subíamos a parte
rochosa do vulcão, a alvorada ia dando ares da sua graça. O nascer-do-sol visto
do topo da América Central é LINDO! Toda a cadeia vulcânica da Guatemala era
visível no horizonte, assim como as luzes da ainda adormecida cidade de Xela
(Quetzaltenango). Podíamos notar ao fundo o fumo que saía do vulcão
Santiaguito.
Quando chegámos ao topo, o sol já tinha nascido, mas as cores da
montanha e da paisagem em redor continuavam fantásticas. E, à nossa frente, o
fantástico efeito visual da sombra do quase cone perfeito do Tajumulco a
esteirar-se na paisagem... Fabuloso!
Depois de muitas fotos, circundámos a cratera (onde se encontrava a
pastar uma vaca-montanhista!), tendo acesso a perspectivas excelentes do vulcão
Candelaria e dos vales verdes adjacentes. A seguir, iniciámos a descida em
direcção ao acampamento e ao desejado pequeno-almoço. Quando chegámos ao início
do bosque, olhei para cima e, por incrível que pareça, a visão do Tajumulco
fez-me lembrar as montanhas à volta da aldeia da minha avó, que calcorreei
enquanto adolescente...
No acampamento, até a nossa fiel companheira canina teve direito a uma
merecida refeição...
Depois de desmontadas as tendas, e feitas as mochilas, iniciamos a
descida por volta das 9.00h. O tempo começava a ficar novamente nublado... E
enquanto descíamos, a paisagem foi gradualmente desvanecendo-se aos nossos
olhos, conforme a neblina ia ganhando terreno, até que as condições adquiriram
exactamente as mesmas características da subida do dia anterior.
Quando, finalmente, após cerca de 2 horas de descida, passamos
novamente pela placa que marca o início do trilho, e antes de ter de correr
para apanhar o autocarro que nos levaria de volta, tive a certeza que tínhamos
sido abençoados por esta montanha, pois tínhamos estado no ponto mais alto da
América Central, na época das chuvas, e tínhamos sido agraciados com uma das
visões mais bonitas da nossa "Rota dos Maias 2012".