Se houvesse um tema que reunisse os interesses mundias
seria, seguramente, o futebol. O micro-bus que nos leva de Flores até Langquin
pára às 14h para o motorista ver o jogo de futebol Real Madrid - Barcelona. Os
três espanhóis que viajam connosco parecem bastante satisfeitos. Eu, que cada
vez abomino mais futebol, fico incrédula. A viagem deveria ser feita em 7 horas
mas com a paragem técnica demoramos o dia todo a chegar a Langquin, uma pequena
aldeia no norte da Guatemala que ganhou vida com os viajantes que a utilizam
como acesso ao magnífico parque natural de Semuc Champey.


Escolhemos o El Retiro para descansar o corpo completamente
pisado da viagem, especialmente os últimos 20 km de estrada de terra que liga
Cobán a Langquin. Tivemos direito a alojar-nos nas águas-furtadas de um
bungalow, sem direito a porta ou a qualquer isolamento. Uma vez que estávamos
no meio da floresta resolvemos sacar da rede mosquiteira, que sempre trazemos
connosco, para nos proteger, essencialmente das cobras que me pareceu iam
gostar de passar aqui a noite. Quando acordo de manhã não havia mosquitos ou
cobras mas partilhava o quarto com um gato que dormia em cima do meu saco.
Apesar de haver possibilidade de contratar um tour para
visitar Semuc Champey, optamos por apanhar transporte local e fazê-lo por nossa
conta. Conseguimos os dois lugares da frente na carrinha de caixa-aberta que
nos levará até uma das paisagens mais bonitas da Guatemala. Estes lugares na
carrinha foram preciosos para percorrer os 11 km de trilho esburacado, montanha
acima e abaixo, durante 45 minutos.
Em Semuc Champey, a morfologia cársica tem um dos seus
pontos altos. O rio Cahabón percorre estas montanhas de calcário e perde-se no
interior do vale num sumidouro magnífico talhado na rocha. Durante 300 m, o rio
escoa por baixo de uma ponte de calcário onde existem várias piscinas naturais.
Estas sucedem-se umas às outras com águas verde-azuladas completamente
cristalinas. O rio Cahabón corre por baixo da ponte e das piscinas e volta a
aparecer numa ressurgência em forma de queda de água.




Uma subida extenuante de 30 minutos pelo meio do calor e
humidade da floresta tropical leva-me até um miradouro onde é possível apreciar
o magnífico vale e a formação cársica. Depois de satisfeitas as necessidades da
minha máquina fotográfica desço e delicio-me nas águas frescas de Semuc Champey
enquanto absorvo o cheiro da floresta e o som do silêncio, apenas cortado pelo
escorrer da água. Adoro o som do silêncio. No entanto, este som foi interropido
por um grupo de israelitas que, tal como todos os outros, já descobriram este
local.
Regresso a Langquin nos lugares da frente de outra pick-up
particular que nos arranjou o guarda do parque. O motorista desta vez mal fala
espanhol mas tem destreza suficiente para me sacar o chapéu da cabeça e usá-lo
o resto do caminho, tornando-se assim o herói do "asfalto".
Langquin recebe este final de semana a festa local e as ruas
próximas da igreja estão cheias de vendedores e diversões. Os povos indigenas
das povoações locais juntam-se nas ruas estreitas, agora apinhadas de gente.
Despeço-me da povoação de Lanquin. Vou a caminho de Cobán a bordo de mais um
micro-bus local apinhado de gente e onde caberá sempre mais um, nem que seja em
cima.