"Solamente
por el tiempo loco, por los locos sacerdotes, fue que entró a nosotros la
tristeza, que entró a nosotros el cristianismo. Por que los 'muy cristianos'
llegaron aquí con el verdadero Dios; pero ese fue el principio de la 'limosna',
la causa de que saliera la discordia oculta, el principio de las peleas con
armas de fuego, el principio de los atropellados, el principio de los despojos
de todo, el principio de la esclavitud por las deudas, el principio de las
deudas pegadas a las espaldas; el principio de la comtinua reyerta, el
principio del padecimiento. Fue el principio de la obra de los espanoles y de
los 'padres', el principio de usarse los caciques, los maestros de escuela y
los fiscales. Que porque eran ninos pequenos los muchachos de los pueblos, y
mientras se les martirizaba. ¡Infelices los pobrecitos! Los pobrecitos no
protestaban contra el que a su sabor los esclavizaba, el anticristo sobre la
tierra, tigre de los pueblos, gato montés de los pueblos, chupador del pobre
indio. Pero llegará el dia en que lleguen hasta Dios las lágrimas de sus ojos y
baje la justicia de Dios de un golpe sobre el mundo."
Libro de Chilam Balam de Chumayel
Lamanai foi uma daquelas cidades maias que tiveram como
destino sofrer a conquista espanhola e, além disso, é aquela que tem evidencias
de ocupação durante o período mais longo de todo o mundo maia. É ainda uma das
poucas cujo nome é o original da cidade, que significa "crocodilo
submergido".
Com indícios de ocupação desde 1500 a.C., era já um
importante centro cerimonial no período pré-clássico tardio e atingiu o seu
auge de construção entre 200 e 700 d.C. No entanto, aquando da chegada dos
espanhóis ao norte do Belize, vindos do Iucatao em 1544, Lamanai era ainda o
principal centro religioso da região e um importante entreposto comercial que
ligava o mar das Caraíbas ao interior da selva. Sendo assim, e como era norma
na estratégia de conquista, os espanhóis definiram Lamanai como um alvo
prioritário a ser dominado, de modo a substituir as crenças pagas dos indígenas
pelos bons modos cristãos e, claro, eliminar a elite culta e instruída.


Tendo ficado sob o domínio espanhol, pensa-se que a cidade
terá servido como local para onde eram enviados forçados a abandonar cidades e
aldeias mais remotas e fora do controlo dos conquistadores. Era alvo de visitas
periódicas de missionários franciscanos, que aqui ordenaram a construção de
duas igrejas (as ruínas delas podem ainda ser encontradas no local, sendo que
foram encontradas pequenas figuras de crocodilos postos nas fundações das
igrejas pelos maias!). No entanto, o descontentamento e espírito de revolta
maia nunca desapareceram, tendo ocorrido uma grande rebelião em 1640, que levou
a uma resposta brutal dos espanhóis, que reduziu a cidade a escombros e cinzas.
A cidade foi abandonada mas, quando os espanhóis abandonaram o Belize no século
XVIII e os ingleses entraram em cena, surgiu a tentativa (falhada) de estabelecer
aí um posto comercial com uma fábrica de processamento da cana-de-açúcar, sendo
que algumas dezenas de trabalhadores (e famílias) residiram aí no final do século XIX, usando
as ruínas como base das suas casas. Se o negócio tivesse funcionado, Lamanai
poderia ainda hoje ser habitada!

Hoje, acede-se às ruínas a partir da cidade de Orange Walk,
com uma viagem de barco de cerca de 3 horas, subindo o "New River",
durante a qual se pode observar a fauna e flora da região. O tempo estava
bastante nublado e, quando chegámos, fomos almoçar o que tinha sido preparado
pela agência que escolhemos (Jungle River Tours). Durante este, começou a
chover intensamente. Estávamos condenados a ver mais umas ruínas maias debaixo
de chuva!
O guia era bastante conhecedor do local e da região e
foi-nos acompanhando na visita aos principais edifícios. Começamos pelo Templo
do Jaguar, uma grande pirâmide (à qual não subimos por razoes de segurança,
pois trovejava na altura) com 2 grandes máscaras de jaguares ao lado da escadaria
principal. Datado do século VI, foi modificado continuamente pelo menos até ao
século XV!
Em frente da praça, existe um complexo residencial, e a
norte deste pode encontrar-se uma estela, datada de 625 d.C., representando o
rei entronizado, com as suas vestes reais. Perto, um pequeno campo de jogo de
bola tem o maior marcador (pedra circular normalmente encontrada perto de uma
das extremidades dos campos, com inscrições de dedicação da construção). Por
esta altura a chuva era tanta que o campo parecia uma piscina...

Depois de admirarmos a estrutura N10-43, a mais alta de
Lamanai (que também não subimos) e construída por volta de 100 a.C., seguimos
para o templo das máscaras, no qual pudemos deliciar-nos com aquelas que são
das melhores e maiores máscaras de governantes do mundo maia. Ao contrário do
habitual, não foram feitas em estuque, mas em blocos de calcário, datam de 400
d.C. e pensa-se que representarão 2 lideres sucessivos. O que se vê, na
realidade, não são os originais, mas sim uma capa de fibra de vidro feita por
cima das pedras originais. É uma técnica de restauro questionável, pois os
originais poderiam ter sido removidos para um museu, onde estariam mais
protegidos, mas a verdade é que é aqui, neste lugar onde foram construídas há 1600
anos, que faz todo o sentido olhar para estas obras de arte, mesmo que por
baixo de uma capa protectora.


E foi só no fim da visita que a chuva nos deu um pouco de
descanso, ao mesmo tempo que os macacos uivadores começavam a dar sinais da sua
presença. Mas estava na altura de regressar.
E ao entrarmos novamente para o barco e percorrermos o rio
de volta, tive a certeza que, apesar dos seus 3500 anos de idade, Lamanai não
vai acabar a sua história por aqui...