Diz a lenda (ilustrada no Códice
Mendoza, feito após a chegada dos espanhóis para informar a corte espanhola da
história e costumes dos astecas) que, há 700 anos, o Deus do povo Asteca lhes
disse que se deveriam instalar onde vissem uma águia num cacto a devorar uma
serpente. Cerca de 1325 d.C., esta visão (agora representada na bandeira do
México) concretizou-se numa ilha de um lago, num local que se tornaria a cidade
de Tenochitlán, mais tarde a moderna Cidade do México. Iniciava-se assim a
construção do que viria a ser o grande império asteca, com uma capital que
impressionaria os espanhóis quando a viram pela primeira vez em 1519. Mas, há
700 anos, um pouco a norte de Tenochitlán, já existiam as ruínas de uma antiga
cidade, cuja memória dos seus habitantes e fundadores já se tinha perdido.

O nome que os astecas lhe deram:
Teotihuacán, "o lugar onde os homens se tornam deuses". Mesmo coberta
de terra e vegetação, o plano geral da cidade era ainda visível. Uma enorme
avenida estendia-se num eixo norte-sul, ladeada por restos de edifícios que os
astecas acreditavam serem túmulos reais. Mais afastadas, pirâmides de vários
tamanhos e formas enchiam o recinto. No extremo norte da avenida, em terreno
mais elevado, chegava-se a uma grande praça ladeava por doze pirâmides e, ao
fundo, uma enorme pirâmide, por eles chamada Piramide da Lua, dominava o
horizonte. A leste e a meio da avenida,
uma ainda maior pirâmide, a pirâmide do Sol, dominava todas as vistas do
recinto. Representações de Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada, e Tlaloc, o Deus
da chuva, abundavam em todos os edifícios.

O povo asteca considerava esse
terreno sagrado e, dada a sua grandeza, acreditavam que esta cidade teria sido
construída por gigantes. A realeza asteca fazia peregrinações as ruínas, ao
local onde acreditavam que os deuses se tinham sacrificado para por o Sol em
movimento.
Hoje, passados 700 anos da
fundação do império asteca, pouco mais sabemos acerca do povo que erigiu esta
cidade. Felizmente, os astecas esconderam dos conquistadores a localização das
ruínas, evitando uma possível maior destruição.
Assim, a sua memória perdeu-se no tempo até serem redescobertas no século XX, quando começaram a ser feitas
escavações e estudos arqueológicos.

Visitadas actualmente por
milhares de turistas diariamente, continua a ser um local de peregrinações,
agora principalmente de movimentos New Age, que aqui se reúnem nos equinócios
para aproveitar as energias que o local é suposto fazer convergir. O que se pensa
serem apenas 10% da antiga cidade foram escavados e parcialmente reconstruídos.
Os estudos efectuados revelam que a cidade foi fundada há cerca de 2000 anos,
sendo que floresceu entre 250 e 600 d.C. Pensa-se que terá sido a maior cidade
do mundo na época, com cerca de 125.000 habitantes e capital de um vasto
império que modelou os impérios mais pequenos que se seguiriam no tempo por
toda a mesoamérica. Nada se sabe das causas da sua queda. Invasores externos,
"inimigos" internos, esgotamento de recursos, colapso social...
Resta-nos especular.

Hoje, passados 700 anos, quem
visita este local continua a ter uma sensação de assombro, tal e qual os
astecas. Impressionam o engenho humano, a grandeza da obra, a beleza do
conjunto. Pode passar-se horas percorrendo a pé o recinto e parece nunca ser
suficiente. Teotihuacán é uma das grandes obras do passado cujos vestígios
sobreviveram até aos nossos dias. A par das pirâmides do Egipto, é um
testemunho que viajou séculos para chegar até nós e que devemos saber escutar.
Cada um sente-o e compreende-o a sua maneira, mas o que é importante é que
aprendamos com os nossos antepassados e não deixemos que se perca a memória do
bom e mau que o Homem é capaz de fazer.