A chuva não pára. O vento parece cada vez mais forte e o céu está negro. Eram apenas 13 h quando
saímos das ruínas maias de Coba e o céu parecia que ia desabar a qualquer
momento. Apanhamos um autocarro que nos levou até Tulum. Pelo caminho, as
chuvas constantes e os ventos não deixavam margem para dúvidas: estávamos sobre
influência de uma tempestade tropical.
Desde Cozumel que sabíamos que o furacão Ernesto ameaçava a
costa do Caribe mas estávamos confiantes que se dirigia para o Belize e para a
Guatemala. Foi com admiração que ouvimos a Cintya, dona do Mama's Home,
dizer-nos:
- O furacão Ernesto atinge Tulum pelas 17 h. A protecção
civil emitiu um alerta vermelho para a região. Devem fechar-se no quarto,
trancar tudo e nas 12 h seguintes não sair sobre qualquer circunstância. Escutem
o que escutarem, não saiam do quarto. De manhã irei bater-vos à porta. Aí
poderão sair.
Confesso que senti medo. A Cintya explicou-nos inclusive que
as calmas do olho do furacão podem ser mortais. As pessoas acham que o perigo
acabou e saem. De repente são apanhados por ventos contrários e extremamente
fortes. Tínhamos a lição bem estudada e como ainda eram 15 h aproveitamos para
comprar alguma comida e água (regra
básica para quem enfrenta catástrofes naturais) e enviar notícias para casa. A
notícia do furacão Ernesto está em todos os jornais e TV do continente
americano. Não sabíamos se os nossos familiares e amigos estariam a par da
evolução do estado do tempo, mas seria melhor que soubessem por nós e que os
pudéssemos deixar descansados.
As praias de Tulum foram evacuadas. Os turistas realojados
em hotéis na povoação, a cerca de 4 km das praias, o infantário foi
transformado em abrigo e encontra-se pronto para receber 1300 pessoas. Ainda
bem que optamos por não ficar na praia. Foi uma decisão acertada, tendo em
conta as circunstâncias, no entanto, caso fosse uma época normal a praia é muito
melhor opção.

Para além do mau tempo que apanhamos durante o dia, achamos
melhor não sair de Tulum nessa tarde já que os riscos naturais raramente têm
hora marcada. Fechar-me no quarto e esperar era quase matar-me. Fiquei nervosa,
claustrofóbica e intolerante. Detesto sentir-me presa e naquele momento era
assim que me sentia. Só consegui permanecer no quarto cerca de duas ou três
horas. O Rui dormia e eu lia. Já farta, saí para a rua. Os filhos da Cintya
estavam no pátio e eu fui para o pé deles. Como ainda tinham o computador
ligado aproveitei para ir à internet e distrair-me um pouco. Foi por pouco
tempo. Por volta das 21 h os ventos começaram a soprar muito fortes e a chuva a
cair com muita intensidade. Era hora de fechar tudo de vez e enfrentar o recolher
obrigatório. Depois de comer qualquer coisa deitei-me acompanhada do uivar dos
ventos e do som da chuva. A trovoada escutava-se ao fundo e quando era mais
forte metia muito medo. Adormeci, e estranhamente dormi a noite toda.

No dia seguinte acordei e via a Cintya lá fora. Saí e fui
ter com ela. Ao que parece o furacão atingiu Chetumal, um pouco mais a sul, às
21.30 h. Tulum foi atingido apenas pela parte lateral da depressão.
O dia continuava escuro, mas tinha parado de chover. O vento
continuava, embora muito menos forte do que no dia anterior. Senti-me bem por
não ter testemunhado o furacão e por tudo ter corrido pelo melhor. No entanto,
quando visitamos nesse dia as ruínas de Tulum pudemos ver que as ondas
trouxeram para a costa todo o lixo que recolheram noutros locais. Havia
inclusive árvores derrubadas e na estrada que vai para Punta Allen o mar
destruiu cabanas e parte da rua. A população começa agora a reconstruir as
infraestruturas e quem sabe, a preparar-se para mais um furacão. Este é ainda
o primeiro de uma temporada que se prolonga até Novembro. Eu espero que para
nós seja o último que tenhamos que enfrentar nesta viagem.