Há dois dias no ano em que Oaxaca recebe o festival de
folclore da cidade, onde centenas de habitantes das aldeias da região se vestem
a rigor e apresentam as suas danças no auditório da cidade. Esses dias
correspondem as duas últimas segundas-feiras de Julho e são as festas de
Guelaguetza. Nós tivemos a felicidade de chegar a Oaxaca no domingo a noite, o
dia que antecedeu a primeira segunda-feira das festividades.

Poderia dizer que essa feliz coincidência me fez esquecer a
tenebrosa viagem entre Puerto Escondido e Oaxaca mas não seria verdade. Foram 7
horas numa carrinha onde o motorista não ultrapassava os 30km/h. Demoramos mais
tempo do que alguém poderia imaginar para fazer pouco mais de 200 km. Pelo
caminho subimos e descemos montanha, apanhamos floresta tropical e até chuvas
torrenciais, mas o que mais recordo são as centenas de "topes" (termo
que designa lomba gigantesca em cimento e que faz qualquer veiculo ter que
praticamente parar). Para além dos "topes" também gostei de saber que
no México podemos encontrar "vibradores" em qualquer lado! Há dezenas
de placas anunciando "vibradores". Fiquei muito desiludida quando
descobri que eram apenas "pequenas lombas consecutivas".

A nossa carrinha chegou a Oaxaca eram nove da noite e
estávamos cansados e cheios de fome. Não sabíamos se teríamos onde dormir nessa
noite porque chegamos um dia mais cedo do que o previsto e com as festividades
o hostel onde íamos pernoitar estava cheio. Apanhamos um táxi na rua e
descobrimos, provavelmente, o único taxista honesto do México. Deixou-nos no
hostel Don Nino, mesmo em frente a Fiesta del Mezcal que estava a decorrer na
praça Juarez. Feliz coincidência: tínhamos duas camas num dormitório (as
últimas) e comida e bebida logo em frente. Acomodamo-nos neste belíssimo hostel
e saímos para experimentar a gastronomia local.

O nosso faro astuto rapidamente nos levou para uma banca de
"tlayudas", um prato típico local que consiste numa espécie de
tortilha grelhada na brasa recheada com queijo, frijoles (feijões moídos) e
legumes acompanhada por "costilla" (dois nacos de carne). Nada mau
para começar a nossa passagem pela cidade. O Mezkal, achamos melhor deixar para
os próximos dias. Estávamos cansados e decidimos deitar-nos cedo.
No dia seguinte, tivemos que trocar de hostel. Mudamo-nos
para a Casa Angel, que já tínhamos reservado pela internet e onde poderíamos
ter alguma privacidade num modesto quarto duplo. Decidimos começar o nosso dia
com uma viagem a Monte Albán, a cerca de 8 km da cidade. Apanhamos um autocarro
e fomos e regressamos sem contratempos. Passamos 3 horas nas ruínas desta
cidade zapoteca e foi o suficiente para nos apaixonarmos (ver post de Mont
Albán).

Quando regressamos a Oaxaca compramos algumas frutas no
mercado e almoçamos no hostel. O objectivo era assistir as festividades no
anfiteatro da cidade. Fomos com 3 horas de antecedência tentando arranjar lugar
para ver gratuitamente o festival. Quando descobrimos que a fila tinha 2 km
desistimos. Optamos pelo plano B: ir para a porta da entrada dos grupos étnicos
e tirar-lhes fotografias. Foi bastante interessante porque descobrimos a
graciosidade das jovens mexicanas das serranias e os seus belos trajes. As nossas noites eram passadas na praça Juarez e na Fiesta
del Mezkal.
No nosso segundo dia decidimos conhecer o Vale de Tlacolula.
Como saímos de manhã e regressamos a noite só repetimos a praça Juarez e as
maravilhosas "tlayudas", desta vez com "tajano" (bife de
vaca muito fino).
Só no terceiro dia que passamos em Oaxaca tivemos tempo para
explorar a cidade. Localizada num bonito vale na Sierra Madre, Oaxaca situa-se
a 1500 m de altitude o que a torna agradavelmente fresca para esta latitude
(estamos na zona intertropical). Esta bonita cidade colonial conseguiu
preservar muitos dos seus edifícios históricos e o seu centro é Património
Mundial da UNESCO. É uma sensação incrível passear pelas ruas coloridas, sempre
cheias de população indígena, desde mixtecas, zapotecas e muitas outras
minorias étnicas, tendo como cenário o enredo colonial da Catedral ou das
várias igrejas espalhadas pela cidade.

Decidimos iniciar o nosso percurso pelo magnifico Mosteiro e
Igreja de Santo Domingo. Quem nos conhece sabe que adoramos um bom museu, e
este mosteiro foi convertido num excelente museu, exibindo uma magnífica
biblioteca e vários artefactos pré-colombianas, nomeadamente das civilizações
Mixtecas e Zapotecas. É desta última o grande "tesouro" do museu:
vários artefactos recolhidos nas escavações de Monte Albán, a grande capital
Zapoteca. Os Mixtecas viriam a ocupar a capital zapoteca e utilizaram a cidade
como túmulo encerrando aí várias pecas de arte e joalharia em ouro, jade,
alabastro, obsidiana e várias pedras preciosas. Os tesouros recuperados de
Monte Albán estão aqui expostos.

Depois de passarmos mais de duas horas neste museu
labiríntico saímos pela igreja de Santo Domingo. A sensação que se tem é que é,
muito provavelmente, uma das igrejas mais ricamente decoradas do mundo. Eu e o
Rui sentimos a nossa boca abrir-se e saiu-nos "WOW" a juntar ao das
dezenas de turistas que estavam sentados a ouvir as explicações dos guias. A
igreja está ricamente decorada em ouro e talha dourada exibindo uma mistura de
estilos gótico, românico, barroco e mourisco. Prefiro deixar que as fotos falem
por si. Do largo de Santo Domingo descemos a calle Alcalá, uma das
mais bem preservadas da cidade (tendo em conta o seu estilo colonial) até
chegar a Praca das Armas e a bonita Catedral.

A gastronomia de Oaxaca é um ex-libris da cidade e por isso
decidimos almoçar no mercado 20 de Novembro, onde almoçam os locais. Nestas
coisas raramente corre bem mas as aventuras são sempre dignas de registo. Entre
"enchilladas" super picantes e "parrilla" de carnes sem
carne salvaram-se o arroz e os frijoles, os clássicos mexicanos. Da parte da tarde, embrenhamo-nos no mercado Juarez para
comprar artesanato e depois de uma visita a Basilica de la Soledad, a igreja
dedicada a virgem da Solidão (algo que nunca tinha ouvido falar mas gostei),
voltamos a calle Alcalá e a praça de Santo Domingo para assistir as
festividades de Guelaguetza. Um magnífico fim de tarde.

À noite teríamos que apanhar o autocarro para San Cristobal
de las Casas, no entanto, nenhum dia ficaria completo sem o jantar na Praça
Juarez e na Fiesta del Mezkal. Foi isso que fizemos. De mochila as costas e a
caminho do terminal de autocarro, apeamos na praça, mas por pouco tempo. Um
enorme aguaceiro começou e tivemos que comer debaixo da porta da entrada de um
prédio.

A nossa estada em Oaxaca viria a terminar de forma tão
atribulada como a nossa chegada. No terminal estavam centenas de pessoas
sentadas e deitadas no chão. Achamos estranho mas rapidamente percebemos que
havia uma "huelga" (manifestação e greve) dos taxistas. Tinham
fechado todos os acessos a cidade desde as 6 horas da manha, altura em que os autocarros
pararam de circular. O nosso autocarro era as 9 horas da noite mas só as 9.30 h
a "huelga" acabou e se iniciou a circulação. Primeiro saíram os
autocarros da manha e só por ordem os outros. Eram 23 h quando saímos de Oaxaca,
respirando fundo. Aquelas duas horas no terminal serviram para descansar e
conversar com uma família mexicana de Tabasco e uma rapariga francesa (os
franceses parecem estar a colonizar o México!). Estávamos de saída de Oaxaca e
a caminho de San Cristobal de las Casas e iríamos empreender uma viagem de 15
horas de autocarro ate a região de Chiapas.