Chak Chak... pinga, pinga...


No deserto rochoso de Dasht-e Kavir, praticamente suspenso na vertente rochosa está Chak Chak, o maior centro de peregrinações dos zoroastrianos. A religião zoroástrica é uma das mais antigas do mundo, tendo praticamente desaparecido da face da Terra, com excepção de alguns lugares na Índia e no Irão.


Esta religião foi uma das primeiras a desenvolver o ideal do monoteísmo e o ideal da luta do bem contra o mal, sendo o culto da luz e do fogo uma metáfora da luta entre o conhecimento e a ignorância.


O símbolo da religião é o Fravahar, que representa o espírito que consegue atingir Deus após a morte. Diz-se que os 3 reis magos que adoraram e presentearam o nascimento de Cristo eram zoroastrianos. Os zoroastrianos seguem Zoroastro (ou Zaratrusta) que terá nascido entre 1000 a 1500 anos antes de Cristo.


Os fiéis acreditam que a Terra não deve ser conspurcada com restos mortais humanos, daí que não os enterrem (evitando assim a contaminação dos solos) e não os cremem (evitando a contaminação do ar). Para se desfazerem dos cadáveres, os zoroastrianos colocam os corpos nas designadas Torres do Silêncio, que são edifícios circulares, a céu aberto, onde os corpos ficam expostos e são comidos por aves necrófagas. Hoje, nas proximidades de Yazd, as Torres do Silêncio já não são utilizadas, ao contrário daquelas que vimos em Mumbai, na Índia. 
Os poucos zoroastrianos que ainda existem nas comunidades iranianas colocam os seus mortos em sepulturas cimentadas tentando evitar assim a conspurcação da Terra.


Entre 14 e 18 de Junho é a Chak Chak que rumam os peregrinos zoroastrianos para o festival anual. Fora dessa data, o local está mais ou menos deserto. Foi assim que nós o encontramos. Os edifícios que albergam os peregrinos estão vazios e apenas vimos algumas pessoas no Templo do Fogo de Pir-e-Sabz.


Vale a pena subir a montanha para desfrutar de uma vista fantástica sobre o vale. Chak Chak significa pinga, pinga. Diz a lenda que a princesa sassânida Nikbanuk refugiou-se neste local aquando da invasão árabe e, como não havia água, sacrificou os seus homens atirando-os pela ravina abaixo, começando a água a pingar. Hoje cai uma pinga dentro do templo mas não é suficiente para esquecer o calor abrasador que está lá fora. O uso do lenço no Irão é, para mim, um sacrifício, mas ainda mais nestes dias de calor em que me sinto como se estivesse de cachecol. Imaginar que estou numa queda de água e imaginar o som da água a pingar faz-me relaxar. Pinga, pinga, ou Chak Chak, está longe de ser um paraíso mas é definitivamente um lugar a visitar.


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