Neste nosso périplo pelo sudeste
asiático, Banguecoque teve um papel de plataforma giratória em diversas das
nossas deslocações. Estivemos por três vezes distintas nesta cidade mas só lá dormimos uma noite (e curta!). No primeiro dia, chegamos de manhã cedo, de
comboio vindos do sul da Tailândia e das suas praias. À noite, saímos de
autocarro com destino ao Norte, a Mae Hong Son. Na segunda vez, repetimos o
modo de chegada, mas desta vez vindos de Chiang Mai. Na mesma noite, apanhamos
um comboio com destino a fronteira com o Laos. Finalmente, na última vez,
regressados do Laos de comboio, voltamos a passar o dia na cidade e dormimos
num hostel ao lado da estação de caminhos de ferro, pois na madrugada seguinte
iríamos apanhar um comboio com destino à fronteira com o Cambodja. Pode
dizer-se que a nossa passagem por Banguecoque foi como a cidade... Frenética!

Não vou cansar os leitores
assíduos do "Viagem cor de açafrão"com uma descrição exaustiva dos
lugares que visitamos em Banguecoque, nem das diferentes experiências por que
passamos. Vou tentar dar uma perspectiva pessoal daquilo que, mesmo vivido a um
ritmo alucinante, me marcou mais.
Devo dizer que considero que, de
uma forma geral, Banguecoque é uma cidade que consegue conjugar de uma forma
admiravelmente harmoniosa (pelo menos tanto quanto uma capital asiática o
consegue!) o moderno e o antigo, o sagrado e o profano, o glamoroso e o
chocante. E todas estas diferentes visões são ligadas pela principal artéria da
cidade, o rio Chao Phraya, com as suas águas castanhas permanentemente cruzadas
por barcos carregados de turistas, locais e mercadorias.
Dito isto, a primeira visão que
se tem da cidade, quando se chega de comboio, não é agradável. Encostadas à linha, de um e de outro lado, barracas sucedem-se durante quilómetros, as quais
milhares de pessoas chamam de lar. Parecem viver em condições bastante
degradantes, muitas vezes vizinhos de bairros com um aspecto ocidental, mas o
negócio e o bulício da cidade começa aqui: as seis da manhã já se cozinha e já se preparam os carrinhos com frutas para se vender nas ruas da cidade.

Banguecoque tem uma parte
moderna, com muitos arranha-céus cinzentos e espalhados desordenadamente mas com
alguns edifícios bonitos, de uma arquitectura agradável, incluindo alguns hotéis
de luxo junto a margem do rio. Claro que apartamentos com rendas de 1200 euros
mensais ou hotéis com noites a 250 euros não está ao alcance de qualquer
tailandês... Nesta zona, o sistema de transporte mais eficaz, e de mais agrado
dos turistas (e locais), e o SkyTrain, um monocarril elevado que percorre
vários bairros da cidade. Claro que, mesmo assim, o tráfego automóvel é caótico, como qualquer capital asiática...





Nesta zona é possível percorrer
durante horas vários centros comerciais (coisa que não fizemos!), para depois
rumar a Chinatown, cujas ruelas estreitas ladeadas por lojas me fizeram lembrar
as cidades dos países árabes (para lá, evidentemente, da China!). Aqui a melhor
maneira de conhecer e percorrer a pé, no meio da confusão de cores, de sons e
de cheiros. Parecem dois mundos diferentes (e são!) mas juntos na mesma cidade.


Podemos também encontrar espalhados pela cidade (ou
melhor, envolvidos por ela) numerosos templos (wat) budistas, uns mais para
turistas, outros para "consumo" local. A espiritualidade não é fácil
de encontrar no Wat Phra Kaeo inundado por turistas, mas e curioso ver que a fé
(ou crença, se preferirem) dos tailandeses e dos turistas asiáticos é uma parte
essencial da sua vida, algo que pude sentir ao assistir a uma "missa"
budista no Wat Suthat ou nas numerosas ofertas que se fazem aos deuses no
santuário de Erawan, construído para combater os maus espíritos que se julgava
provocarem problemas na construção de um Hotel, e com um sucesso tão grande que
hoje é um dos locais de devoção mais movimentados da cidade!



E os mesmos turistas que visitam
templos durante o dia, à noite podem passar (e normalmente o fazem) por
Patpong, uma das zonas de prostituição mais famosas do mundo (mais uma das
heranças da guerra do Vietname no sudeste asiático) e onde, além de mais um
mercado nocturno, se pode entrar em numerosos clubes de diversão nocturna que,
com estratégias publicitárias mais ou menos explicitas, tentam aliciar os
turistas a assistir a shows como o de "ping pong" e o "apagar
velas" (deixamos a imaginação do leitor o conteúdo desses shows...). Não,
não fomos ver... Mas o que é chocante não é o que é praticado no interior dos
clubes em si, mas sim a história de raparigas novíssimas (muitas delas menores)
provenientes de zonas pobres da Tailândia ou de países vizinhos e que, por
ignorância, pobreza, fraqueza ou um sonho de uma vida melhor, se deixam emaranhar nesta
teia tecida por outros, e da qual nunca sairão incólumes.

Banguecoque é isto, e muito mais.
Depois de por cá passarmos, cada um fica com o que ela nos dá, em função
daquilo que somos e daquilo que nela procuramos.