São 5 horas da manhã e o comboio
pára na estação de Nha Trang. O sol já espreita e a vida começa a fervilhar nas
ruas. Está calor! Como é possível? Ainda
são 5 horas! De mochila às costas percorremos as estradas e encontramos um
hotel onde passar o dia e parte da noite. Esta noite vamos partir novamente de
comboio para Danang. Só temos um dia em Nha Trang mas estamos cansados,
precisamos tomar banho e pousar as mochilas. Optamos por pagar um dia num hotel
barato.
Como o sol nasce por volta das
5.30 h da manhã não temos tido muita oportunidade de contemplar o seu nascer,
pelo que aproveitamos que chegamos bem cedo a Nha Trang para o ver na praia.
A cidade de Nha Trang é o destino
preferido dos vietnamitas que procuram a tranquilidade de umas férias na praia.
No entanto, os vietnamitas parecem conscientes dos malefícios do sol porque das
centenas que aproveitam a praia de manhã, a maioria desaparece por volta das
7.30 h. Aí começam a chegar os russos, a nova classe média-alta que inunda os
principais destinos turísticos balneares do mundo. Depois de um banho de mar antes
do pequeno-almoço na praia, saímos num
tour de barco pelas ilhas e costa de Nha Trang.

Há várias formas de enganar os
turistas e os vietnamitas são exímios nisso. Devem ter desenvolvido várias
técnicas durante décadas que foram difundindo por todo o país. A regra número
um parece ser "o turista nunca viu nada por isso gosta de tudo!" e a regra número dois
"Antes do tour começar tudo está incluído, depois do tour começar nada
está incluído". Pagamos 9 USD por um tour de barco pela costa. Saímos do
porto de pesca de Nha Trang em direcção a uma
ilha onde existe um aquário com algumas espécies endémicas vietnamitas.
- O bilhete da visita ao aquário
não está incluída. Quem não pagar a entrada não pode sair do barco que ficará
aqui atracado durante uma hora. Só quem for ao aquário pode descer para visitar
a ilha. - disse o guia.
Ora bolas, pensei eu. Mais um
esquema vietnamita. Chateados, lá pagamos o bilhete que por acaso até vale a
pena.
Algum tempo depois voltamos ao
barco e este navegou alguns minutos pela costa até chegar a uma área onde
haviam recifes de coral (embora em muito mau estado). Aí fizemos snorkeling,
mas do tubo, máscara e barbatanas que estariam incluídas no inicio só tivemos
direito à máscara! Quem quisesse fazer mergulho teria que pagar um extra
(40 USD) para ter o material completo. Achamos que os corais não mereciam e
muito menos os guias.
Depois de explorar os corais
resolvemos voltar ao barco. O Rui subiu para a parte superior do barco e
mergulhou para o mar. Eram 3 ou 4 metros. Depois dele o ter feito
perguntei-lhe:
- Custa muito? Magoa?
- Não, Carla. Podes vir.
Pensei, se ele faz isto eu também
tenho que fazer (porque é que eu sou assim?). E... lá fui eu. Como tenho problemas com a água
no nariz resolvi tapá-lo. Quando embati na água com a pressão senti um
"bac" nos meus ouvidos, seguido de dores fortíssimas. Quando vim a
cima estava cheia de dores. Sai da água e subi para o barco. Não aguentava as
dores. Era horrível, insuportável. As lágrimas corriam-me pela cara e eu
sentia-me sufocar com as dores. Tomei um analgésico e as dores foram passando.
Mais tarde vim a saber que tinha feito uma otite aguda nos dois ouvidos.
Resultado, uma semana a analgésicos e antihistaminicos!
Às dores seguiu-se o almoço. Há
que comer para esquecer. Desta vez, o almoço estava mesmo incluído e tivemos
direito a gambas e tudo. Descobri que os asiáticos não apreciam esta iguaria
pelo que me vinguei no almoço. Gambas e "spring rolls", não preciso
de mais nada.
Para terminar o almoço, um dos
guias montou um bar na água que servia vinho vietnamita com ananás. O único
requisito para usufruir do bar aberto é que tínhamos que ir para o meio do mar.
Com os ouvidos temporariamente adormecidos lá mergulhei e desfrutei da iguaria
na companhia de dois vietnamitas. Até aprendi algumas coisitas em vietnamita.
Não sei se foi do vinho ou da língua mas a verdade é que meia hora depois já
não me lembrava de nada! Como qualquer tour vietnamita há
sempre um golpe final. O barco rumou até uma ilha, onde atracou junto a uma
esplanada de cadeiras assentes em cascalho.
- Agora vamos passar duas horas a
relaxar neste resort. - disse o guia - têm que pagar para entrar na ilha e no
resort.
- Como? Isto é de loucos. Estes
gajos são malucos mas mais malucos somos nós porque pagamos.
Lá pagamos, mas o pior é que
pagamos 1 euro e recebíamos um bilhete que dez metros à frente tínhamos que o entregar. Disse ao guia que não entregava o bilhete porque queria ficar com o
recibo. O homem quase colapsava. Passou-se logo e tirou-me o bilhete da mão e
empurrou-me para a frente. Já estava pago, não havia nada a fazer! O melhor era
rir-me de tudo aquilo (apesar de o meu feitio me dizer "discute com o
homem").
Estendemo-nos numa cadeira de
bambo em frente ao mar e lá ficamos durante algum tempo, relaxando. Quando
chegou a hora de voltar ao barco, regressamos a Nha Trang e congratulamo-nos
pela ideia do quarto de hotel. Tomamos banho e saímos para jantar. No final de
jantar tive que regressar ao quarto e, como as dores tinham voltado (mais
fortes ainda), deitei-me até à hora do comboio.
As pastilhas lá fizeram efeito e
à meia-noite lá apanhamos o comboio em direcção a Danang. Mais uma noite a
dormir no comboio. Começo a habituar-me a dormir com trepidação. Sim, porque
quem dorme num comboio no Vietname rapidamente percebe que é como dormir em
cima de uma máquina de lavar roupa no programa de centrifugação!