Vislumbro os penhascos calcários
entre o nevoeiro que cobre a paisagem enquanto o barco de madeira percorre o
rio a caminho do Pagode do Perfume. As margens estão cobertas de vegetação
tropical e há flores de lótus a cobrirem as águas. O nevoeiro acrescenta um
carácter mais mágico ainda a este local. “A mais bela caverna sob os céus do
sul” é a frase que está escrita na subida para um dos pagodes do Perfume.

O Pagode do Perfume, a 65 km de
Hanoi, é uma atracção turística por excelência para os vietnamitas. Situado no
monte do Vestígio Fragrante, em vietnamita Nui Huong Tich, é um complexo com
mais de 30 templos e santuários. Para chegar ao pagode é necessário apanhar um
barco em My Duc e percorrer cerca de uma hora e meia ao longo do rio Suoi Yen.
Dividimos o barco com dois filipinos de meia-idade mas cheios de sentido de
humor. O barco é conduzido por uma jovem mulher vietnamita. Os nossos amigos
metem-se com todas as mulheres vietnamitas que se cruzam connosco e, como falam
um pouco de vietnamita, fazem as delícias das gentes.

O silêncio é impressionante, só
quebrado pelos risos dos filipinos. O nevoeiro torna esta viagem inesquecível.
O barco atraca no cais e seguimos a pé até ao nosso primeiro pagode, o Pagode
de Thien Tru, conhecido como Pagode da Cozinha Celestial. Este pagode, do
século XVIII, tem três patamares onde
existem vários santuários budistas que parecem acolhidos harmoniosamente pela
floresta tropical na base de um penhasco. É impossível não reparar que não
existem turistas ocidentais. Há vários turistas asiáticos e vietnamitas.
Europeus ou americanos não vemos.
Depois de almoçarmos num
restaurante local, optamos por subir o monte Nui Huong Tich de teleférico.
Olhamos para baixo e vemos a floresta tropical cobrir os penhascos calcários.
No topo basta caminhar algumas
dezenas de metros para chegar ao Pagode de Huong Tich, o pagode mais venerado
do complexo. Este pagode constitui um templo criado no interior de uma gruta
calcária. Ainda sinto o cheiro do incenso que perfuma todo o espaço.
As estátuas douradas da deusa da
Misericórdia Quan Am e do buda embelezam a gruta. Há uma escadaria enorme que é
necessário descer para chegar à gruta e subir quando regressamos. É
impressionante estes 120 degraus íngremes e altos que ligam o pagode ao topo da
montanha.
Optamos por descer a montanha a
pé para efectuar o percurso que os peregrinos fazem durante a sua peregrinação
ao topo da montanha. Hoje, a montanha está praticamente deserta e há
pouquíssimos turistas. Dizem que durante o Festival do Pagode do Perfume as
pessoas acotovelam-se para conseguirem subir, tal a afluência de pessoas.
Durante a peregrinação saúdam-se e procuram a absolvição dos seus pecados. Este
pagode é também bastante popular para os casais inférteis que procuram aqui a
bênção de um filho.
Não deixa de ser estranho ver o
percurso cheio de tendas de comércio fechadas. Só abrem durante o festival. No
entanto, reparo que algumas delas servem de habitação para algumas famílias. Só
trabalharão durante os meses do festival? Não consegui perceber.
Pelo caminho ainda paramos em
mais dois pequenos pagodes, o Giai Oan ou Pagode da Redenção das Injustiças e o
de Tien Son, bastante antigo e venerado pelos locais.
Uma vez cá em baixo, regressamos
ao cais e apanhamos o barco de regresso a My Duc. O nevoeiro levantou mas
continua o templo nublado. Este ar cinzento da paisagem ainda torna o caminho
mais enigmático. Parece que viajamos no tempo.