A divisão do Vietname em dois
países, o do Norte e o do Sul, é algo que tem raízes muito mais profundas e
distantes no tempo do que aquelas que foram invocadas pela ONU em 1954. A zona
norte, à volta do delta do rio Vermelho, foi palco de um domínio territorial
por parte dos chineses durante os primeiros 1000 anos depois de Cristo e, mesmo
depois de ganha a independência em relação a essa potência, os impérios que se
desenvolveram nessa região sempre tiveram uma grande influência cultural
chinesa. Pelo contrário, no Sul, na região do delta do Mekong, as influências
eram outras. Por exemplo, o império de Funan, de origem índica e precursor do
império khmer, controlou, no seu auge, a maior parte do actual Cambodja e a
costa oriental da Tailândia.

Outro império, que dominou parte
do Vietname central, foi o de Champa. “Entalado” entre os impérios de Viet, a
norte, e os khmers de Angkor, a sua existência nunca foi fácil mas, mesmo
depois de perderem a maior parte do seu território, conseguiram manter a
independência até 1720, numa estreita faixa de terra em redor de Nha Trang. A
sua capital religiosa foi, entre os séculos IV e XIII, o complexo de My Son, a
40 km de Hoi An (a partir de onde saímos para visitar o conjunto de ruínas mais
famoso do Vietname).
Acompanhados por um guia que
dizia “Kiss me” em vez de “Excuse me” lá partimos em direcção as ruínas que
muitos intitulam de Angkor do Vietname. Claro que rapidamente nos apercebemos
que esta comparação não era muito justa… Não me interpretem mal, o complexo de
My Son é interessante de se visitar, mas a ideia de compará-lo a Angkor só pode
ter vindo de uma cabeça vietnamita a pensar em sacar algum dinheiro de turistas
incautos!
Descoberto em finais do século
XIX por arqueólogos franceses, apenas 20 templos estão hoje em relativo bom
estado, de um total que se pensa que rondaria os 70. Além dos séculos de
guerras com os vizinhos do norte e do sul, My Son teria ainda de passar mais
uma provação no século XX, quando os EUA escolheram a área como alvo
prioritário devido à intensa actividade vietcong. Um dos grupos de templos foi
completamente destruído pelos bombardeamentos norte-americanos e ainda hoje se
podem observar enormes crateras de bombas entre os templos sobreviventes.
Os edifícios que mais se
distinguem são as chamadas torres Cham, com figuras em relevo, enquanto um falo
gigante em pedra e um lingam de Shiva atraem as atenções dos turistas,
devidamente auxiliados pelas explicações dos guias…
Como sempre, grande parte dos
rituais praticados nestes templos estão relacionados com o culto da
fertilidade, e como a chuva está ligada à fertilidade, talvez não tenha sido
por acaso que, após termos regressado a Hoi An num percurso de barco que acabou
no mercado da cidade, fomos abençoados com uma chuva torrencial que durou toda
a tarde!