- Acorda, Carla. Danang, chegamos
a Danang. Temos que pegar nas mochilas e sair. - abana-me o Rui.
Eram quase onze horas quando
chegamos a Danang e eu tinha voltado a adormecer. Mal saímos da estação fomos
bombardeados por dezenas de taxistas que nos queriam levar a Hoi An (a 30 km)
ou até ao terminal de autocarros. Denominador comum: nenhum queria usar o
taxímetro. Bombardeavam-nos aos ouvidos valores exorbitantes. Confesso que isto
me irrita tremendamente e desligo. Caminho e tento passar por eles sem ter
qualquer reacção. O Rui ainda tentou ouvir algo mas como eu continuei a
caminhar ele acabou por desistir. Alguns taxistas seguem-nos e dizem-nos que
vamos no sentido errado. Não quero saber. Só me apetece ir para longe deste
covil de "gangs de taxistas" e arranjar um táxi "normal"
que nos leve ao terminal.

Peguei no guia e pelo mapa lá me
orientei. Estávamos no caminho certo e por isso resolvemos caminhar em direcção
ao terminal. Devemos ter caminhado meia dúzia de centenas de metros e lá
arranjamos táxi para fazer os poucos quilómetros que nos separavam do terminal.
Aí apanhamos um autocarro local para chegar a Hoi An. Após mais uma hora de
viagem chegávamos finalmente a Hoi An.
- Moto-táxi? 20 000 Riel. -
disse-nos um rapaz quando chegamos ao terminal de Hoi An.
- Estamos perto, Rui. Vamos a pé.
- disse eu.
Começamos a caminhar e
percorremos cerca de 1 km pela estrada. Como nunca mais chegávamos à estrada do
nosso hotel comecei a achar que não estávamos bem. Perguntamos a uma menina que
estava a vender sumo de cana-de-açúcar numa esquina de um cruzamento. Apesar de
ela não falar inglês percebemos que estávamos realmente no sítio errado. A rua
onde estávamos estava mal marcada no guia da Lonely Planet, e tal como noutros
lugares aqui no Vietname, também o mapa de Hoi An tinha muitos erros. Voltamos
para trás o percurso todo até chegarmos novamente ao terminal.
- Moto-táxi? 20 000 Riel. -
pergunta-nos outro senhor.
- No, thanks, we walk. - disse eu.
- Very far, very far...
- Carla, o mapa está errado. Não
sabemos exactamente onde estamos. É melhor apanharmos aqui a moto-táxi do que
perder aqui o tempo todo. Só temos uma
tarde para Hoi An. - disse-me o Rui.
Ele tinha razão. Não valia a pena
andar a perder tempo a descobrir onde estávamos para depois ir a pé. Lá
negociamos a moto-táxi e apanhamos duas por 15 000 Riel (0,50€) cada uma.
Apesar de ter sido barato, não pude deixar de me contorcer toda quando vi que a
mota fez cerca de 800 m para nos levar ao hotel.
Alojados, e bem alojados,
marcamos um tour para amanhã visitar My Son e saímos para explorar a cidade
antiga de Hoi An, declarada Património Mundial da UNESCO, em 1999.
No núcleo urbano antigo da
cidade, o trânsito motorizado é proibido pelo que é uma lufada de ar fresco
passear aqui. A arquitectura da cidade é bastante harmoniosa apesar da mescla
cultural que alberga, resultante da sua actividade comercial nos séculos XVI e
XVIII que atraiu chineses, japoneses e europeus.
Para visitar os principais locais
de interesse é necessário comprar um bilhete "geral" que permite
entrar em 5 locais distintos. Há vários locais, mas cada bilhete que custa 90
000 Riels só permite entrar em 5. Se quisermos entrar em mais teremos que
pagar outro bilhete. Outra das coisas que se deve ter atenção é que o bilhete
só é válido por um dia. Assim, como só tínhamos uma tarde, tivemos que
"dar corda aos sapatos", visto que começamos a visitar a cidade às
14 h e os monumentos fechavam às 17.30 h.
Tanto eu como o Rui estávamos
cansados da viagem de comboio, dos quilómetros desnecessários feitos da parte
da manhã, do autocarro... e resolvemos sentarmo-nos num restaurante e comer
antes de passar à cidade. Sabíamos que tínhamos pouco tempo mas também sabíamos
que sem comer e descansar não iríamos desfrutar.

Escolhemos um restaurante barato
ao lado da casa Tan Ky, um dos ex-libris arquitectónicos sino-vietnamitas de
Hoi An e que visitamos depois de ter o estômago cheio. Tal como a casa Tan Ky,
também o nosso restaurante é uma casa bastante comprida e estreita com dois
pátios, um interior e outro exterior, e exibe vigas japonesas, telhados
chineses e vários elementos arquitectónicos franceses. A grande diferença entre
as duas casas é que na Tan Ky pagamos bilhete e no restaurante pagamos mas
comemos! No entanto, seria injusto se disséssemos que as casas são iguais. Não
é verdade. A casa Tan Ky é bastante mais rica com mobiliários faustosos,
incrustações de madrepérola nas vigas e tectos chineses ricamente decorados. No
entanto, não tem os saborosos "spring rolls" nem Pho (sopa de massa
chinesa)!

Lemos que iria haver um
espectáculo de danças tradicionais na Ofícina de Artesanato. Assim, percorremos
as belas ruas da cidade velha até chegar ao nosso destino. Enquanto
aguardávamos pelo início do espectáculo aproveitei para ver algumas mulheres
que produziam lanternas chinesas, mais uma herança cultural. As estruturas são
feitas de bambu recolhido nas margens do rio Thu Bon e depois cobertas por seda
colorida. Escolhi uma cor-de-laranja para carregar na minha mochila e trazer
para Portugal.
O espectáculo de dança é muito
bonito. As raparigas vietnamitas são lindas, de uma beleza singela e
particular. Parecem mover-se lenta e majestosamente ao som da música. Foi um
momento singular em que me senti viajar no tempo.
Já tínhamos dois carimbos no
nosso bilhete geral e não queríamos desperdiçar lugares. Passamos para o
terceiro carimbo na Sala da Assembleia Chinesa
de Hainan. Estas salas foram construídas pelas comunidades chinesas,
neste caso provenientes da ilha de Hainan, e são geralmente dedicadas a seres
mitológicos ou eventos da cultura chinesa. Neste caso, a assembleia Chinesa de
Hainan é dedicada aos marinheiros chineses que morreram assassinados por um
pirata vietnamita. Há vários murais com representações deste episódio.
A imagem de marca da cidade de
Hoi An é a ponte japonesa. Datada do século XVI, esta ponte coberta ligava o
bairro chinês ao bairro japonês. Com o passar dos anos a comunidade japonesa
foi desaparecendo e os vietnamitas rebaptizaram-na como a "Ponte dos viajantes que vêm de
longe". Pensavamos que a ponte que nos recebia vindos de Singapura há
quase dois meses, iria ser o nosso quarto carimbo. Foi com bastante felicidade
que descobrimos que a ponte era um bónus.

Assim, decidimos visitar a Sala
de Assembleia Cantonesa, também conhecida por Quang Dong. Da região de
Cantão chegaram vários mercadores e
marinheiros a Hoi An que construíram este belo templo que funcionaria como uma
espécie de associação cultural. Há aqui estátuas belíssimas de dragões
coloridos e entrelaçados. Terminamos o nosso bilhete geral
na Casa Phung Hung, mais um exemplo arquitectónico de uma casa pertencente a
uma família japonesa que fez fortuna no comércio das madeiras aromáticas, sedas
e porcelanas. Hoje, tal como a maioria das famílias de Hoi An, as actividades a
que se dedicaram durante gerações foram trocada pelo turismo, a nova fonte de
receitas milionárias no país.
Eram 17.30 h e tínhamos o bilhete
geral do dia carimbado. Missão cumprida. Podíamos respirar fundo e interiorizar
o que tínhamos visto. Para processar a informação fomos passear pela cidade,
agora com tempo para apreciar as suas gentes, a sua dinâmica interna, e a forma
como este turismo crescente tem sido absorvido.