Chong Kneas é uma pequena aldeia
piscatória na margem do Tomle Sap, o maior lago do Cambodja. Esta pequena
aldeia situa-se a poucos quilómetros de Siem Reap e merece uma visita atenta,
já que está muito longe do glamour dos hotéis e templos de Angkor Wat. Apanhamos um tuk-tuk para fazer o
percurso até à aldeia. Pelo caminho acompanhamos a vastidão da paisagem plana
de campos de arroz.

Uma vez em Chong Kneas optamos
por visitar primeiro a parte das casas flutuantes é só depois as casas em
estacas presas à margem do lago. Apanhamos um barco no porto que nos levou
pelos canais do lago até ao centro da aldeia. Havia vários barcos com turistas,
essencialmente asiáticos. A aldeia e bastante bonita é típica. As casas flutuam
amarradas a bidões de plástico e os seus habitantes movem-se no lago e no rio
utilizando pequenos barcos de madeira. Infelizmente, junto do café e do local
onde existe uma criação de crocodilos, há uma concentração de crianças e
mulheres a pedir. Mal vêem os turistas as mulheres empurram as crianças para a água que gemem e gritam por "one dollar".


De repente aparece um homem e
manda todos dali para fora. Elas recuam e obrigam as crianças a fazerem o
mesmo. Mas, mal o homem volta costas e vai embora as crianças e mulheres
voltam. Os rapazes do barco explicam-nos que são na maioria viúvas e órfãos dos
pescadores que morreram no lago. É indiscutível que é gente muito pobre. No
entanto, mais do que pobreza isto é miséria. Miséria, sem qualquer dignidade.
O rapaz do barco teimava em
levar-nos a locais de pobreza extrema e a certa altura queria que fossemos
comprar material escolar para levar a uma escola de órfãos. Imediatamente lhe
disse que não estávamos interessados. Queria passar pela escola mas não queria
ir fazer compras antes. O rapaz mostrou-se um pouco chateado mas lá seguiu
caminho. Quando paramos na escola havia bastantes miúdos a correr dentro dos
edifícios e dois ou três adultos a tomar conta deles. Aquilo era tudo menos uma
escola (nos moldes que nós a conhecemos).

Já tinha lido várias coisas sobre
isto e por isso quis tanto vir aqui. Nesta zona do Cambodja, que recebe muitos
turistas, há gangs organizados que avo buscar crianças aos intervalos das
escolas ou nas férias escolares e os colocam em locais que fazem passar por
escolas de órfãos. O objectivo é que os turistas comprem material escolar que
depois voltará ao mesmo lugar para ser revendido e que dêem generosas doações
para a "educação" destas crianças. Mais uma vertente do Oprah
Tourism!
Eu e o Rui trouxemos vários
balões coloridos de Portugal e foi isso que dei aos miúdos que se aproximaram
do barco. Os gangs não venderam o seu material escolar e muito menos receberam
doações monetárias. Há muita gente necessitada no Cambodja mas precisa
essencialmente que lhes ensinem a trabalhar, a viver com dignidade, a criar os
seus filhos. Para isso há imensos programas de voluntariado. Esses sim, são
ajudas para com o povo e para com o país.
Da parte mais turística da aldeia
fomos para a área das casas suspensas em estacas. Como esta parte da aldeia não
recebe turistas as crianças riem e dizem-nos adeus com alegria e um sorriso
genuíno. Não pedem nada, nem tentam exibir a sua pobreza. Mostram-nos o sorriso
alegre e humilde de um Cambodja longe dos olhares dos turistas.