A pobreza é a principal arma do
turismo de Phnom Penh. É triste mas é a crua realidade. Deambular pelas ruas da
capital do Cambodja é um exercício de fortificação para os corações mais
frágeis. Há pedintes por todo o lado, especialmente mulheres e crianças. Se na
Índia a pobreza incomoda, aqui mais do que incomodar revolta. Qual e a grande
diferença?
Enquanto que na Índia há muito
mais pobreza e miséria do que no Cambodja, tanto em quantidade como em
qualidade, aqui a pobreza é um negocio. é o chamado Ophra Tourism.


É indiscutível que há situações
de miséria mas em Phnom Penh, os pobres são atirados para os olhos dos
estrangeiros de forma a suscitarem solidariedade e por conseguinte dinheiro. As
crianças amontoam-se nas ruas junto dos lugares turísticos e carregam cestos
pesadíssimos de livros fotocopiados que tentam vender. Só se dirigem aos
turistas estrangeiros. Outras crianças, as quais não tem nada para vender,
olham os turistas com um olhar que nos penetra a alma e exibem olhos de fome e
desespero. Dar dinheiro está fora de questão. Comida sempre. Compramos bolachas
para oferecer às crianças mas elas olham-nos desconfiadas e pouco satisfeitas.
Não recusam, mas salvo raras excepções não se mostram agradecidas. Em frente
aos restaurantes e cafés, cujos preços são proibitivos para 98% da população do
Cambodja (e para 2 portugueses), mulheres com crianças de colo despidas e sujas
sentam-se em frente às esplanadas. Até os mais insensíveis são incapazes de
comer de consciência tranquila com tal cenário.

Apesar do treino na Índia, não
conseguimos ficar indiferente à pobreza, à miséria e, pior ainda, à exploração
da miséria. Grande parte das crianças de rua são alugadas ou vendidas pelos
próprios pais (em situação de miséria e com vários filhos que são incapazes de
alimentar) de forma a aliviar o orçamento da família. Uma vez entregues a
gangs, as crianças passam a percorrer a cidade em busca de estrangeiros a quem
pedem dinheiro. Esse dinheiro é entregue aos gangs e em troca a criança recebe
um prato de comida diário e um local para dormir. Estes homens não demonstram
qualquer pudor nem culpa e recolhem o dinheiro das crianças na frente de quem
quer ver.
Por detrás desta cidade, que se
pode contemplar nas ruas, há a cidade imperial, com o majestoso Palácio Real e
o Pagode de Prata, o ex-libris da riqueza do Cambodja, e o Museu Nacional, que
expõe algumas esculturas originais do complexo de templos de Angkor.
Infelizmente, esta Phnom Penh está muito longe da realidade do país.
O Cambodja não são só as ruas de
Phon Penh, nem os palácios e pagodes. O Cambodja são as extensas planuras
cobertas de campos de arroz, a beleza dos rostos, a simpatia das suas gentes, a
inocência das crianças das áreas rurais e o seu sorriso genuíno, o olhar de
agradecimento pela bolacha e o sorriso com que nos brindam quando se vêem numa
fotografia. Felizmente, o Cambodja está muito longe de Phnom Penh.
Depois de conhecer este país, foi em Phon Penh que apanhamos o barco para o
delta do Mekong, no Vietname. Outras aventuras se seguiriam.