No dia 07/07/07 foram anunciadas,
em Lisboa, as novas sete maravilhas do Mundo, resultado de um
"concurso" que não contou com o apoio da UNESCO. Angkor Wat ficou de
fora. Mas para quem já visitou este complexo de ruínas, é por demais evidente
que merecia um lugar nas "7 wonders", principalmente se a compararmos
com uma das vencedoras (não vou revelar qual, para não ferir
susceptibilidades...).

Concursos à parte, o complexo de
Angkor, que se estende por cerca de 200 km2 no noroeste do Cambodja, é um dos
sítios arqueológicos mais impressionantes do planeta. Na actualidade, de
cidades inteiras, capitais de impérios construídas ao longo de séculos, restam
apenas as ruínas dos templos construídos em pedra (ao contrário de casas,
palácios e outras estruturas), dedicados aos deuses hindus e budistas. Após o
auge do império Khmer (não confundir com os chamados "khmers
vermelhos" do séc. XX...) nos sécs. XII e XIII, Angkor foi várias vezes
saqueada e caiu no esquecimento até ao séc. XX. As ruínas estão, em geral,
bastante degradadas, mas tendo em conta os séculos que passaram e a história
recente violenta e sangrenta do Cambodja, até é surpreendente o que chegou até aos nossos dias. E são estas ruínas que hoje constituem uma das mais
importantes fontes de receita de um país frágil e necessitado.

Dada a extensão e complexidade de
Angkor, decidimos comprar o bilhete de três dias e, assim, dormir quatro noites em
Siem Reap, a cidade a poucos quilómetros. No primeiro dia, escolhemos visitar
as principais atracções, que também são aquelas que se encontram mais perto da
cidade. Assim, decidimos deixar o riquexó para os outros dias e ir de bicicleta,
de forma a podermos parar quando e onde quiséssemos, e a podermos
"absorver" melhor a paisagem circundante. Revelou-se uma excelente
escolha. O tempo esteve todo o dia
bastante nublado (mau para as fotos!) mas não choveu (bom para os ciclistas!).
No segundo e terceiro dias, visitamos outros templos, alguns deles bastante interessantes,
como os templos de Banteai Srey (com excepcional decoração em pedra) e Bakong
(o primeiro templo em forma de montanha, mais afastado da cidade, mas que vale
a pena ser visitado), mas nenhum deles aproximando-se da grandeza e beleza
daqueles que visitamos no primeiro dia.


Angkor Wat, o maior complexo
religioso do mundo e principal atracção de Angkor, foi a nossa primeira
paragem. Não nos impressionou muito inicialmente, talvez pelo imenso número de
turistas presente (e esta era a época baixa!), pela falta de sol ou então por
expectativas demasiado elevadas. No dia seguinte, haveríamos de voltar a Angkor
Wat ao final da tarde, já com sol, tendo o templo já parecido outro. Mesmo
assim, pessoalmente, pensei que era mais trabalhado (salvam-se os
baixos-relevos que sobreviveram nas galerias)
e estivesse melhor conservado, especialmente as torres do santuário
central, que são a "face" deste templo.
O fosso também podia estar melhor
cuidado, o que aumentaria em muito a qualidade das vistas do complexo a partir
das margens exteriores. Dito isto, a escala e complexidade do complexo são
inigualáveis. É pena não ter dinheiro para um passeio de balão...

Na minha opinião, a verdadeira
pérola de Angkor situa-se alguns quilómetros ao lado. Angkor Thom era, no final
do séc. XII, a maior cidade o império Khmer e hoje podemos admirar as ruínas do
templo principal da cidade, de seu nome Bayon. Apesar de conter alguns dos mais
belos baixos-relevos de Angkor, a imagem de marca deste templo é, sem sombra de
dúvidas, o conjunto de 54 torres e 216 esculturas em pedra que encimam cada uma
das torres. Quatro rostos com um sorriso enigmático, contemplando os quatro pontos
cardeais, e que se pensa representarem o bodisatva Avalokitesvara,
personificado pelo rei-deus Jayavarman VII, que mandou construir a cidade. A originalidade
da construção e a serenidade transmitida pelas faces em pedra (principalmente
quando as multidões de turistas se vão embora...) garantem a este templo um
lugar único na história da arquitectura. Esperemos que se mantenha assim
durante muitos anos!

Visitamos também Phnom Bakheng,
que se ergue num monte acima da planície circundante, e de onde se obtém vistas
fabulosas da floresta que parece poder voltar a cobrir todos os templos a
qualquer instante. De evitar, no entanto, ao por-do-sol, uma vez que é o
destino final de todos os pacotes turísticos de um dia... Um circo turístico!
Finalmente, de realçar o templo
de Ta Prohm, famoso pelas árvores que abraçam as ruínas com as suas raízes,
criando um efeito espectacular e enigmático, tanto que já foi utilizado por
Hollywood nos filmes de Lara Croft, protagonizados por Angelina Jolie. Será que
a beleza deste templo (para além das inúmeras e lindas crianças cambodjanas que
circundam os templos vendendo lembranças aos turistas) contribuiu para o
coração da actriz se abrir ao Cambodja e as causas humanitárias?... (Talvez o
nosso Guterres lhe possa perguntar!)