Mulheres girafas: há anos que
sonho em conhecer esta tribo. Muito antes de ingressar na universidade, muito
antes de começar a desbravar este planeta. Há mais de 20 anos que sonho em
conhecer este povo que tanto me fascina.
Tudo começou quando andava na escola
e vi um documentário sobre uma tribo, algures no Myanmar, onde as mulheres se
enfeitavam com anéis pesadíssimos de metal, em volta do pescoço. Nunca esqueci
essas imagens e, agora na Tailândia, resolvi rumar as aldeias das montanhas
para as conhecer.
Esta tribo é originária da
Birmânia, antiga Myanmar, mas como povoavam as regiões montanhosas controladas
pelos rebeldes e com bastantes distúrbios com os militares, foram obrigadas a
fugir e procurar refúgio no norte da Tailândia.
Para os aldeões a sobrevivência
não era fácil. Nunca foram reconhecidos com legalidade pelo governo tailandês e
as populações locais também não os viam com bons olhos. A vida num país
estranho era cada vez mais difícil. Os homens trabalham essencialmente na
rizicultura e as mulheres auxiliavam-nos nas tarefas agrícolas e cuidavam das
casas. No entanto, a imagem da tribo são os enormes anéis de metal dourado que
usam em volta do pescoço e por baixo dos joelhos. As raparigas começam a
colocá-los bem cedo e à medida que os anos vão passando vão acrescentando elos.

Loucura? Muitos poderão pensar
que sim, mas eu nunca ousaria ter esse tipo de pensamento. A identidade
cultural de um povo é aquilo que melhor o define. Se aos nossos olhos nos
parece bárbaro é porque estamos a olhar com "lentes erradas". Sinal
de beleza para elas e para a sua comunidade, os anéis também tem uma utilidade
pratica: visavam defender as mulheres dos ataques mortais dos tigres. Hoje, os
tigres estão praticamente extintos e as mulheres girafas seguiam o mesmo destino.
De repente, algo mudou para elas,
mulheres, e para elas, tribos. O turismo. Descobriram que os turistas pagavam
para fotografa-las, para vê-las, para as conhecer e para as compreender. Foi
então que uma tradição que se estava a perder ressuscitou. As aldeias ganharam
dinamismo, a economia local começou a florescer e as raparigas mais jovens
sentem-se agora tentadas a continuar uma tradição milenar.
O governo da Tailândia, esse
continua sem reconhecer a população destas tribos como habitantes do seu país.
Estranho é que arrecadem tanto dinheiro que provém do turismo de Mae Hong Son,
cidade que serve de base para a visita a estas aldeias.
Para muitos, este tipo de turismo
é como visitar um jardim zoológico humano. Para mim, está muito longe disso.
Trata-se de valorizar a diversidade e identidade cultural de um povo, trata-se
de preservar tradições ameaçadas, trata-se de promover crescimento económico em
áreas desfavorecidas. Se o turismo trará aspectos negativos? Com certeza que
sim, mas se não fosse o turismo, estas tribos já cá não estariam para mostrarem
ao mundo que "Somos todos diferentes mas todos iguais", mesmo para os
olhos mais cépticos.