Explorando o Arquipélago de Chiloé

Os "brujos" são o centro da mitologia do Arquipélago de Chiloé. Envoltas em misticismo, as ilhas de Chiloé estão cheias de histórias de criaturas mágicas. Durante séculos, as características climáticas das ilhas perpetuaram uma cultura intrigante. Os nevoeiros constantes e os ventos frequentes, aliados ao isolamento, permitiram a existência de crenças que ainda hoje estão bastante vivas.
Os chilotes descendem dos Chono, que foram os primeiros povoadores das ilhas. Só em 1567, os espanhóis chegaram a Chiloé. Na altura a população indígena foi praticamente dizimada devido a uma epidemia de varicela.
Com mais de 40 ilhas, a maior ilha do arquipélago é a ilha Grande de Chiloé, com 180km de comprimento e 50km de largura. A sua dimensão faz dela a segunda maior da América do Sul.

A presença e influência espanhola no arquipélago foi curta mas o legado deixado pelos missionários jesuitas perdura nas igrejas construídas em madeira. Mas as ilhas de Chiloé guardam algo muito maior do que as suas igrejas. Preservam uma beleza natural imaculada aliada a uma cultura chilena pouco tocada pela crescente globalização.
Em Ancud, a primeira cidade para quem entra no arquipélago, sinto a forte importância da actividade pesqueira. Os barcos estão ancorados no porto e os pescadores realizam as suas lides diárias. Infelizmente, os pinguins que habitam a Pinguinera Puñihuil já migraram para norte para fugirem ao inverno austral. Sendo assim, parto, também eu, mas em direcção ao sul da ilha.
Castro é a capital do arquipélago e, provavelmente, a povoação mais característica. O espirito chilote está bem preservado na sua arquitectura local. Construída num promontório, a cidade desce até ao fiorde. Aí, os palafitos, casas construidas sobre estacas de madeira junto às águas do fiorde, têm a frente virada para a estrada. A parte traseira do palafito tem os barcos atracados. A vida em Chiloé é assim: vive-se virado para o fiorde e ao mesmo tempo para terra. Mar e Terra parecem combinar-se perfeitamente.
A beleza de Chiloé não assenta somente na sua cultura local. A sua beleza natural é indescutível. O Parque Nacional de Chiloé protege uma área de 43 mil hectares de floresta nativa e de costa pacífica. Apesar de Cucao, a povoação mais próxima da entrada do parque registar cerca de 2200mm/ano de precipitação, a verdade é que foi aqui que apanhei o meu primeiro dia de sol no arquipélago.
Da entrada do parque segue-se um trilho pela floresta nativa, o Trilho El Tepual, e depois o Trilho das Dunas, que termina na costa do Pacífico. É um lugar inóspito e só algumas aves necrófagas parecem habitar aqui permanentemente. No entanto, nas lagunas há pastos com vacas e cavalos.
Numa era onde a globalização tem uniformizado comportamentos e lugares, Chiloé permanece um reduto imaculado da cultura chilena. Ao longe, nos fiordes, passam os barcos que transportam turistas em direcção à Terra do Fogo. Só alguns ousam cruzar o estreito e aventurar-se em Chiloé. Esses, nunca esquecerão que estiveram no Chile.

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