Entrar na Jordânia a partir do
Egipto é bastante fácil e económico. Em Nuweiba, apanhámos um ferry que
rapidamente nos levou para a Jordânia. Mas, o "rapidamente" tem um
preço!! O Ferry custou cerca de 50€ e permitiu-nos numa hora atravessar o Golfo
de Aqaba. Chegando à Jordânia o visto é gratuito e rápido de obter. Valha-nos
isso!

Enquanto esperávamos pelos vistos
conhecemos um casal peruano que também estão a viajar pelo Médio Oriente. Tal
como nós, vão para Wadi Rum. Como já não há autocarro àquela hora decidimos
dividir um táxi pelos quatro. E assim foi. Por 30 JD apanhámos um táxi que nos
levou para a aldeia de Rum. Chegamos bem tarde e tanto nós como os peruanos
estávamos interessados em dormir numa tenda da Rest House. Ainda chegamos a
pagar a tenda mas quando nos dirigíamos para lá o empregado apercebeu-se que já
estavam todas ocupadas. Ohhh!!! Sendo assim... tivemos que dormir no telhado!
Pagámos 2€ por pessoa para dormir sob as maravilhosas estrelas de Wadi Rum.
Montaram-nos uns colchões, nós estendemos o nosso saco-cama e ainda jantámos a
pouca comida que tínhamos trazido do Egipto. O silêncio era absoluto e a noite
toda para nós. Haverá melhor?


No dia seguinte saímos bem cedo
para o deserto depois de tomar o pequeno-almoço rodeados por um cenário
"Lawrenciano". Durante o dia percorremos o deserto arábico de Wadi
Rum e a noite reservou-nos uma dormida num acampamento. Com a companhia de um
grupo de motards polacos e três jovens beduínos assistimos a um maravilhoso
pôr-do-sol, jantamos e ouvimos os beduínos cantar. Fomos dormir vendo passar as
estrelas cadentes que teimavam em povoar o céu do deserto.





Depois de regressar à aldeia de
Rum de camelo (percurso que demorou mais de duas horas e viria a trazer lesões
no traseiro para as próximas semanas - as fotos não podem ser reveladas porque
são MUITO chocantes!) apanhamos um táxi para Wadi Musa, a cidade mais próxima
de Petra. Tivemos que apanhar um táxi porque o único autocarro que sai de Wadi
Rum para Petra é às 8h da manhã e nós só chegámos à aldeia às 11 h. Como não
queríamos perder um dia apanhamos o táxi por 40 JD. O nosso taxista era uma
simpatia e fartamo-nos de conversar durante a viagem (embora eu estivesse a
cair de sono).

Em Wadi Musa alojamo-nos no Petra
Gate Hostel. O local não é mau, mas não é o melhor sítio para se ficar. Os
quartos são razoáveis, com WC e ventoínha. A dona, chinesa, tenta fazer tudo
para nos agradar. Dormimos aqui duas noites; no entanto, se voltasse a Petra
iria para o Valentin Inn, pois é mais barato e mais vocacionado para as
necessidades dos backpackers. Foi aí que conseguimos arranjar um motorista que
nos levou a fazer o tour da Kings Highway, de Wadi Musa a Madaba, passando por
Shobak, Karak, Dana, Wadi Mujib, etc. Conseguimos o tour por 45 JD para os dois.
Penso que não foi mau porque no hostel onde estávamos a rapariga queria 70JD!!!
Uma vez em Madaba, optamos pelo
Black Iris Hotel. É um bom local embora um pouco clássico. Caro, mas com um
leque de opções para quem quer fazer tours pela Jordânia. Optamos por
experimentar aqui o tour do Monte Nebo, Bethânia, Mar Morto (Praia de Amman) e
Mar Morto Panorama. Foi um dia muito bem passado e valeu bem a pena.
Deixamos Madaba e rumamos a Amã,
capital da Jordânia, no autocarro da hora do almoço. Uma vez na capital, ainda
andamos meios desorientados (temporariamente porque uma geógrafa nunca se
desorienta!) para encontrar a baixa da cidade e o nosso hostel. Com a ajuda da
população local lá conseguimos e instalamo-nos no Cliff Hostel, uma instituição
para mochileiros. O Andrew, o dono, é um senhor com os seus 60 anos, SUPER
simpático e sempre bem disposto e pronto a ajudar-nos. Foi possivelmente a
pessoa mais simpática que conhecemos nesta viagem e que me deixa muitas
saudades. Hoje dirige um hostel para mochileiros mas em tempos trabalhou e
estudou inglês na Universidade de Bagdad, no Iraque. Vê com amargura no que o
país se transformou e, embora ainda não tenha lá regressado, ouve com desgosto
os relatos que os amigos lhe contam. Foram boas as conversas que íamos tendo. O
Rui foi muito mais privilegiado do que eu porque era ele que cozinhava no Cliff
enquanto eu ia tomar banho.

Os quartos eram muuuuito simples:
duas camas só com colchão e sem lençóis, um pequeno lavatório (avariado) e uma
ventoinha. WC... fraquinho!!! Por 9€ o quarto... em Amã... não era preciso
mais. Foi fantástico. É impressionante como o conforto é tão relativo! O
importante é mesmo sentirmo-nos bem.
Como estávamos em pleno Ramadão
as noites eram muito difíceis para dormir. Não pelo (des)conforto das camas,
mas pelo constante clima de festa das ruas. Entre as 3.30 h e as 4.30 h da manhã
ninguém dorme nesta cidade e os restaurantes, cafés e snacks de rua estão
cheios de movimento. É a última refeição do dia... depois do pequeno-almoço, só
voltam a comer às 19.30 h. Por isso o barulho nas ruas é ensurdecedor. Beber... só dentro do quarto!
Estávamos em pleno Ramadão. Assim, quando saímos do Cliff as garrafas
amontoavam-se junto às paredes!
Foi o Andrew que nos arranjou um
tour para ver cinco dos castelos do deserto jordano, na estrada que vai para o
Iraque. A sua ajuda foi sempre preciosa porque escrevia-nos em árabe o nome das
estações de autocarro, o destino que queríamos apanhar, e até nos instruía nas
técnicas de "marralhar" os preços. Sendo assim, assentamos arraiais
por aqui durante três noites. Fomos a Jerash e viemos e só depois é que
atravessamos para a Síria.

Atravessamos para a Síria num
táxi partilhado com um motorista que não falava inglês mas teve a destreza para
"surrupiar" uma t-shirt e uma toalha ao Rui. Dividimos o táxi com um
iraquiano bastante simpático embora não conseguíssemos grandes conversas para
além do possível pelos gestos e trocas de olhar. Em Damasco despedimo-nos e apanhamos
um autocarro para Palmira. Depois de esperar duas horas na estação e percorrer
o deserto sírio com um motorista cheio de sono e constantemente a adormecer ao
volante, lá chegamos a Palmira ao fim de uma viagem de 5 horas.
Escolhemos o Hotel Ishtar, embora
fosse caro demais. É possível ficar em sítios mais económicos e talvez com os
mesmos serviços. O quarto era bom e tinha um ar condicionado maravilhoso. No
entanto, faltava-lhe algum carisma. Conseguimos ver o pôr-do-sol (a muito
custo) e o nascer do sol nas ruínas e terminamos (em beleza) a jantar "à
patrão" num restaurante em frente ao complexo. Um final de dia maravilhoso
para comemorar a nossa entrada no que seria, provavelmente, o país que mais nos
surpreendeu pela positiva nesta viagem.

Depois de deambular pelas ruínas
no dia seguinte, voltamos apanhar um autocarro em direcção a Damasco. Os sírios
são tão simpáticos que em quatro horas de viagem conhecemos toda a
"tripulação"! Vamos com um casal francês e um casal canadiano. Para
além disso são mais três sírios, um militar e outros dois. São tão simpáticos e
prestativos que o motorista queria-nos deixar na estrada principal da cidade
(tipo circular externa) e o militar não deixou e obrigou o motorista a
deixar-nos em frente à Porta Al-Jabia, a entrada principal do Souq de Damasco e
bem perto do nosso hostel. Só posso dizer bem dos sírios porque são do mais
genuíno que já encontrei por todas as viagens que fiz.
De mochila às costas procurámos
um hostel "budget". As hipóteses eram reduzidas. O Al Haramain Hostel
estava cheio, o Al-Rabie Hostel, onde acabamos por ficar, só tinha um quarto
duplo disponível e queria 1800SY por noite. Não tínhamos grande hipótese e
víamos o tempo passar. Resolvemos voltar para trás e aproveitar o quarto
duplo. Ainda bem que o fizemos. Para além de termos o privilégio de acordar de
noite com um gato a roçar-nos nas pernas (acreditem que é horrível) tínhamos um
espaço comum maravilhoso. O hostel é fenomenal. É uma casa típica damascena com
uma fonte no meio do pátio interior. As paredes têm representações e
pinturas... parece uma galeria "borgonhese". À noite, sentávamo-nos
no pátio, bebíamos sumos naturais e fumávamos sheesha de maça. Que maravilha!!!
Aquelas noites de Damasco foram inesquecíveis. Tranquilas, relaxadas e genuínas,
tal como o país.

De Damasco, voltamos de táxi
partilhado para Amã, na Jordânia e de novo ao Cliff Hostel. O Andrew ficou
feliz por nos rever e nós por o rever a ele. Outro quarto, mas a mesma
simpatia. Só ficamos uma noite porque na manhã seguinte, bem cedo, apanhamos um
autocarro para a fronteira com Israel. Com o Andrew, deixamos uma recordação de
Portugal - uma t-shirt dos Amigos da Montanha - e muita vontade de voltar, à
Jordânia e à Síria. Quem sabe um dia?