Tadmur é um oásis no deserto sírio, a três horas de
distância de Damasco. Aparentemente, nada faria alguém vir aqui, mas a verdade é que esta pequena cidade com 50 000 habitantes está ao lado de um complexo de
ruínas que constituem a maior atracção turística da Síria. A cidade já era
habitada desde o segundo milénio antes de Cristo, tendo por aqui passado os
Assírios, os Persas e os Seljúcidas, um império fundado por um dos generais de
Alexandre, o Grande. O seu grande trunfo foi ter sido sempre uma encruzilhada
de rotas antigas (entre as quais a Rota da Seda), um ponto nevrálgico ligando o
Mediterrâneo com a Arábia, a Mesopotâmia e o Extremo Oriente.



Com o crescimento do Império Romano, Palmira (Cidade das
Palmeiras, assim chamada pelos Romanos) floresceu e ganhou o estatuto de
"cidade livre" e, posteriormente, de colónia do império, ou seja, os
seus habitantes não tinham de pagar impostos imperiais e a cidade podia
recolher e usar os seus próprios impostos. Com o enfraquecimento de Roma, o
estatuto de independência foi aumentando e esta questão acabou por ser a causa
da destruição da cidade. No século III, Roma respondeu às insurreições
constantes dos governantes de Palmira e invadiu a cidade, transformando-a num
posto fortificado avançado do Império. Gradualmente, conforme o tráfego de
caravanas se ia afastando, as pessoas foram abandonando a cidade e, apesar de
no século VII os Árabes terem fortificado o maior templo e construído um
castelo, os dias de glória da cidade já haviam passado há muito. Nos séculos XVIII e XIX, Palmira foi redescoberta por
viajantes intrépidos e começaram as primeiras escavações arqueológicas.





Hoje, apesar da presença mais ou menos permanente no local
de equipas de arqueólogos, ainda falta muito para escavar, limpar e reconstituir.
Ainda assim, Palmira é sem duvida um dos sítios arqueológicos mais fascinantes
do Mundo e o pensamento que me ocorreu, quando cheguei as ruínas à luz do sol
poente, foi que se este lugar fosse na Europa, isto seria uma das Maravilhas do
Mundo! Mas não é... é na Síria! O ser um local remoto levou talvez a sua
conservação, também poderá causar a sua não preservação dos perigos modernos.




Como é possível as ruínas não estarem circunscritas de
alguma forma? O recinto é aberto; qualquer pessoa pode deambular pelas ruínas,
a qualquer hora, dia e noite (para o turista isto é uma vantagem, mas para a
conservação do local não o será...). Uma estrada local passa pelo meio e os
vendedores de bebidas para turistas andam de mota por entre as colunas! Penso
que algo terá de ser feito rapidamente pela comunidade internacional de modo a
valorizar este local extraordinário, a preserva-lo para as futuras gerações e
permitir que possa ser estudado e compreendido.





No dia seguinte levantamo-nos cedo e dirigimo-nos novamente
ao local. Devido à hora, percorremos sós grande parte do recinto. Foi uma
experiência excepcional aproximarmo-nos do recinto descendo do castelo na luz
da manhã, ver os túmulos ao longe, percorrer as ruínas daquela cidade, passar
pela rua colunada, espreitar o teatro, visitar o imenso templo de Bel-Jupiter.
Gradualmente, os autocarros foram chegando e fomos perdendo o silêncio
eloquente das ruínas. No entanto, e apesar das agressões do passado e do
presente, as construções destruídas, roubadas, tombadas, semi-enterradas de
Palmira ainda falam ao nosso coração...