A história de Moisés e a sua fuga
do Egipto, liderando o seu povo numa viagem de 40 anos através do deserto com
destino a Terra Prometida, é bem conhecida por quem quer que leia um pouco da
Bíblia, ou até pelos filmes de Hollywood. Na península de Sinai, perto de
Dahab, encontra-se o monte Sinai, aquele em que se supõe que Moisés tenha
recebido do Senhor os dez mandamentos da lei que regeria o seu povo durante os
séculos seguintes.

Existe uma tour organizada por
qualquer agência local que consiste em subir ao monte de noite (tal como
Moisés, mas não ficando lá tanto tempo como ele!), assistir ao nascer do sol no
cume e regressar à sua base, onde se visita o mosteiro de Santa Catarina,
alegadamente o mosteiro cristão em funcionamento mais antigo do Mundo. Não
podíamos deixar passar esta oportunidade e, entre umas caminhadas pelos canyons
branco e colorido e uns mergulhos nos recifes do "Blue Hole",
decidimos empreender mais esta aventura. Se a minha ideia era ter uma
experiência mais ou menos solitária, de modo a poder apreciar o local e a sua
história, depressa vi que não ia ser nada assim.

Depois de duas horas de viagem
num mini-autocarro, com um total de 11 pessoas, chegamos a base do monte.
Dezenas de turistas sobem a montanha ou preparam-se para a subida. Dezenas de
beduínos tem camelos estacionados ao longo da estrada para levar os turistas
mais preguiçosos até a parte final da subida, 700 degraus até ao cimo, sendo os
japoneses os clientes mais assíduos. A subida é gradual, com várias paragens,
mas difícil, pois estamos já cansados das caminhadas desse dia. Três horas
depois chegamos ao topo. Cinco barracas vendem comes e bebes. A poucos passos do
cume, vendedores gritam para atrair turistas sedentos ou com fome. Alugam-se
cobertores e colchoes para ajudar na espera do nascer do sol, só dai a duas
horas. Tínhamos trazido os nossos sacos-cama, levamos dois colchoes para o cume
e, como fomos dos primeiros grupos a chegar, arranjamos um bom local.
Metemo-nos nos sacos e fomos dormir...

Pelos menos tentar, pois passado pouco
tempo começou a chegar uma torrente de turistas, principalmente de
nacionalidade russa. Depois de algum sono sobressaltado, começaram a notar-se
as cores da alvorada, mas o fresco da madrugada não convidava a sair do saco!
Por fim lá nos aventuramos a tirar muitas fotos, que no entanto não fazem jus à beleza da paisagem circundante. As montanhas próximas estão iluminadas de um
laranja forte, fazendo as delicias do impulso carregador no gatilho (da
máquina...) da Carla! Só ai tivemos noção da quantidade de pessoas presentes no
cume, mais de uma centena, mas um dia calmo segundo o nosso guia!
A descida foi feita pelos
"Degraus do Arrependimento", o caminho supostamente feito por Moisés
na sua subida e descida do monte. A paisagem é fenomenal, pelo caminho vão-se
vendo locais com história bíblica, e no final da descida esperamos um pouco
pela abertura das portas do mosteiro.
Após mais um banho de multidão russa
(constituída na sua maioria por fieis da Santa Catarina), lá entramos no
mosteiro. A estrutura do mosteiro (muralhado) é bastante interessante, mas só
uma pequena parte está aberta ao público. Contém uma pequena igreja, uma
mesquita (!) e uma biblioteca com ícones e alguns dos manuscritos cristãos mais
antigos que sobreviveram, dizendo-se que só e ultrapassada neste aspecto pela
Biblioteca do Vaticano. Finalmente, como não podia deixar de ser, pudemos
fotografar o suposto descendente do arbusto em chamas pelo qual o Senhor se fez
conhecer a Moisés. De volta ao autocarro, mais duas horas de tentativas de
dormir um pouco para restaurar energias.

Concluindo: se quiserem ter uma
experiência engraçada, admirar paisagens bonitas e visitar um mosteiro
interessante, não hesitem. Mas se for para terem uma experiência espiritual ou
contemplativa, esqueçam. O monte já não é o mesmo de Moisés, e ele próprio
com certeza escolheria hoje outro local para falar com o Senhor!