Quando surgiu a ideia de fazer
uma viagem pelo Médio Oriente confesso que me senti um pouco apreensiva. O Rui
lançou esta ideia e eu inicialmente pensei "Não... o que vou eu fazer para
o Médio Oriente?". No entanto, ao mesmo tempo, um bichinho dentro de mim
começava a dizer "Por acaso... não é mal pensado"! Apesar de grande
parte das pessoas se preocuparem com a questão da (in)segurança, confesso que
isso raramente foi ponderado. Quando se lê sobre segurança de alguns países,
teoricamente paraísos turísticos como o México, o Brasil ou o Peru, vemos que o
Médio Oriente não é assim tão diferente. Existem vários rankings que permitem
avaliar o grau de segurança de um país. O site
http://visionofhumanity.org.tmp.anchor.net.au/gpi-data/#/2009/scor, por
exemplo, é delicioso. Descobri que, noutras viagens anteriores já enfrentei
riscos maiores, como é o caso da Índia, Equador, Mongólia ou da Rússia (país
que detém um honroso 5 lugar no ranking do maior número de homicídios per
capita -
http://www.nationmaster.com/graph/cri_mur_percap-crime-murders-per-capita).
Reparei no entanto, que Israel, é também o 4º país menos pacífico do mundo (de
144 países analisados). No entanto, descobri também que a questão da segurança
é extremamente relativa.

Quando dissemos aos nossos
familiares qual o nosso destino, a reacção foi unânime "Tens a certeza?
Aquilo é muito perigoso. É melhor irem para outro lado." Ninguém nos
chamou directamente loucos, mas penso que a maioria o terá pensado. Tenho que
confessar que isso também me atraí. A sensação de que vou enfrentar o
desconhecido, que vou para um local que poucos ousam enfrentar, que vou
percorrer caminhos desconhecidos da maioria da população. Aparentemente pode
parecer contraditório, até porque vamos iniciar o nosso percurso no Cairo. No
entanto, apesar de enfrentar multidões nos locais mais turísticos como as
Pirâmides de Gizé, Luxor, Abu Simbel, Petra, Mar Morto ou Jerusalém, vamos
certamente encontrar serenidade nos oásis do deserto líbio, no Egipto, em Wadi
Rum, na Jordânia, na Síria, na Palestina, no Mar da Galileia ou nos Montes
Golã, em Israel. Isto é o que me atrai nesta viagem. Os locais desconhecidos e
que me poderão surpreender. Obviamente que os grandes destinos turísticos não
podem nem devem ser contornados. É pela sua beleza invulgar e monumentalidade
que são "destinos turísticos". É porque merecem que os turistas lá
estejam, que eles lá estão, e é também por isso, que nós lá vamos.

O que à partida parecem destinos
turísticos "loucos", como a Palestina, a Síria ou os Montes Golã,
podem ser bem mais do que isso. Podem ser oportunidades únicas de conhecer a
cultura islâmica onde ela é mais característica, onde as influências do mundo
ocidentalizado se fez menos sentir, e onde a carga cultural de um povo ainda
marca uma identidade nacional. Num mundo cada vez mais globalizado/mundializado
a perda da identidade cultural dos povos, das nações e dos países é uma
realidade cada vez mais presente. Até quando poderemos viajar e ver coisas
diferentes? Chegará o dia em que vamos sair da Europa e os hábitos europeus
estarão generalizados. Os padrões de desenvolvimento europeu e norte-americano
são copiados na China, na Índia, até nas grandes cidades africanas ou nos
países muçulmanos como o Iraque ou os Emirados Arabes Unidos. Não é a
singularidade cultural que nos atraí nas viagens? É por isso que vamos para o
Médio Oriente. É por isso que escolhemos com muito cuidado os locais que
queremos conhecer. É por tudo isso que todos acham que somos loucos. Tudo isto
porque não sabemos até quando poderemos conhecer "verdadeiramente" o
mundo em que vivemos.
