Com cerca de 90% do Egipto constituído por deserto a probabilidade de sairmos do Cairo e entrarmos nas
areias amareladas é muito grande. Foi isso precisamente que aconteceu, já que
Sakkara se situa a sul do vórtice do delta do Nilo e portanto na área de deserto.
Rodeada de Oásis, a população consegue produzir de forma intensiva tudo aquilo
que necessita para sobreviver. As palmeiras estão carregadas de tâmaras,
alimento importantíssimo durante o período do Ramadão (já que tem enormes
quantidades de açúcar). Mas, os Oásis exibem muito mais do que tamareiras, a
sombra e os sistemas de irrigação ancestrais permitem cultivar hortaliças,
legumes, tubérculos e frutas. O milho, as couves, os tomates vêem-se um pouco
por todo o lado. Pouco nos afastamos das palmeiras e já se via a Pirâmide
Escalonada de Sakkara.
Quando Memphis era capital do Egipto, Sakkara
desenvolveu-se como a sua necrópole real. Sendo assim, a cidade dos mortos
cresceu e hoje cobre uma área de 7km2. Esquecida pelo tempo, os seus túmulos
foram engolidos pelas areias do deserto. Só em 1851, um egiptólogo francês fez
as primeiras descobertas e desde então não tem mais cessado. Ainda hoje,
pudemos testemunhar alguns trabalhos e escavações que ocorrem na área do
complexo.
Sakkara exibe aquilo a que os egípcios chamam o "prototipo da
pirâmide de Gize" e nós chamamos a pirâmide mais antiga do mundo. A
Pirâmide Escalonada de Djoser foi erigida por Imhotep a 4800 anos. A primeira
pirâmide foi um avanço importantíssimo na arquitectura egípcia. Os túmulos
reais deixaram de estar enterrados em câmaras subterrâneas e passaram a estar
protegidos. Esta pirâmide, ao contrário das mediáticas de Gize, mais não é do
que seis patamares sobrepostos, sendo que o superior é sempre mais pequeno do
que o que lhe está subjacente.

A pirâmide escalonada viria a ser a "grande
obra" que todos os arquitectos do Antigo Egipto vieram a querer
superar. Infelizmente não conseguimos visita-la por dentro pois encontrava-se
encerrada devido a obras de restauro. No entanto, o complexo é um dos locais
arquitectónicos mais ricos do Egipto e tem outras pirâmides e túmulos. A
entrada no recinto faz-se por um corredor com uma colunata de 40 pilares que
faz lembrar os templos gregos. A pirâmide de Unas, ao lado da Pirâmide
Escalonada, exibe os textos mais antigos de escrita decorativa que se conhecem
numa câmara funerária. Estes hieróglifos representam orações e hinos que
deveriam proteger o faraó na vida depois da morte. Os Túmulos Persas são outro
exemplo da diversidade arquitectónica existente no local. Estes túmulos são
bastante profundos e exibem inscrições sobre práticas médicas.



Um pouco mais a norte, a Pirâmide
de Teti recebe-nos no seu interior. Descendo vertiginosamente até aos confins
da Terra, o túmulo parecia nunca mais ter fim. Lá em baixo, uma câmara
revestida de hieróglifos leva-nos a uma outra que exibe um enorme sarcófago de
basalto. No tecto, estrelas (que parecem do mar) pretendem recriar um ambiente
sereno e de descanso para o faraó. Esta pirâmide, que de fora parece um monte
de entulho, exibe os únicos textos das pirâmides que os turistas podem ver no
Egipto.

De túmulo em túmulo fomos saltitando e explorando a singularidade da
arquitectura fúnebre egípcia que parece ter tido aqui um dos pontos altos da
sua evolução. A nossa escolha por Sakkara, como primeiro local a visitar
dedicado à arquitectura do Antigo Egipto não foi ocasional. Sakkara pode ter
sido o local mais importante do Império do Antigo Egipto. A pirâmide de Sakkara é apontada pela comunidade internacional como o edifício em pedra mais antigo
do mundo. E claro que nós... não podíamos deixar isso passar em branco!