No circuito que estabelecemos para
explorar o Deserto Ocidental, os oásis de Dakhla e Kharga eram as nossas últimas paragens, antes de rumarmos com destino ao Nilo. Com populações
substancialmente superiores à dos oásis de Baharyia, e principalmente de Siwa,
estes tem uma malha urbana muito mais dispersa e construções mais heterogéneas.
Em Dakhla resolvemos ficar um dia, em que aproveitamos para visitar algumas das
"atracções" locais. Para além do núcleo antigo da cidade, abandonado
e em degradação completa (mas do cimo do qual se tem uma vista privilegiada
sobre a cidade), os lugares mais antigos localizam-se em zonas periféricas do
oásis. Contratamos o serviço de um carro particular e partimos com o objectivo
de visitar Al Qasr, uma cidade medieval, agora abandonada mas ainda habitada
por meia dúzia de pessoas, e o templo Deir al-Hagar, mandado construir pelo
imperador romano Nero, no séc. I d.C.

À primeira visita revelou-se uma
decepção pois a cidade, construída em tijolos de lama, apesar de ter uma
estrutura interessante (ruas estreitas e paredes muito altas), uma mesquita e uma madraça, está bastante degradada e fica a anos-luz das cidades muralhadas do
deserto que se podem ver, por exemplo, em Marrocos.
A segunda atracção revelou-se bem
mais interessante. Perdido já no meio das areias do deserto circundante ao
oásis (sendo por este motivo protegido por um muro, para minimizar a erosão
pelo vento e areia), o templo Deir al-Hagar era dedicado ao culto de Amon e
Horus, deuses egípcios. Apesar da sua estrutura simples de colunadas e alguns
pavilhões sucessivos, destaca-se pelas gravações representando vários deuses
egípcios, a maioria dos quais em bom estado de conservação, e pela sua
localização, longe do bulício da cidade. E como já tínhamos andado pelo deserto
em Siwa e Baharyia, este oásis já não tinha nada mais para nos oferecer!



No dia seguinte partimos, ainda o
Sol não tinha nascido, para o oásis de Kharga, com o propósito de visitarmos
apenas dois pontos de interesse e, no mesmo dia, fazermos já a viagem de
aproximação ao Nilo. Um desses pontos de interesse era o chamado Templo de
Hibis, mandado construir pelo imperador persa Dario I, no séc. VI a.C., mas
neste momento está a ser alvo de um projecto de renovação e não foi possível
visitá-lo. Pudemos apenas tirar fotos de longe, mas pareceu-nos de estrutura
idêntica ao templo que visitamos em Dakhla, sendo no entanto bastante maior.
Apesar desta desilusão, fomos compensados por uma agradável surpresa, que é a
necrópole de al-Bagawat, um dos cemitérios cristãos mais antigo e mais bem preservado
do mundo.

Centenas de túmulos construídos em tijolo, que remontam aos séculos
IV a VI d.C., iluminaram-se com a luz do Sol matinal para nos receberem e
pudemos admirar a localização do cemitério, numa colina na periferia do oásis,
a sua arquitectura e o interior dos túmulos, todos eles vandalizados ao longo
dos séculos. A esmagadora maioria deles já não tem nada no seu interior digno
de ser admirado, mas em alguns deles ainda restam murais pintados representando
cenas da Bíblia ou figuras religiosas. As pinturas mais bem conservadas estão
na chamada capela do êxodo e representam Moisés encabeçando os Judeus na sua
fuga do Egipto. Nós não estamos a fugir, mas também sairemos do Egipto com
Israel como destino final! Por enquanto, era tempo de partir rumo a Asyut, nas
margens do rio Nilo.