No dia 21 de Agosto iniciamos o
famoso trekking de Santa cruz. Estávamos um pouco indecisos, já que não havia
mais ninguém no grupo. Íamos os dois, sozinhos, com um cozinheiro e um
"arriero" (o homem que conduz as mulas que carregam as nossas
coisas). Apesar da indecisão, decidimos ir em frente. Vamo-nos à Cordilheira
Branca! Vamos caminhar quatro dias pelos vales e montanhas da região de
Huascaran! E, ainda bem que o fizemos porque o trekking é maravilhoso.

Começamos com uma subida de 900 m
de desnível desde Cochabamba até alcançarmos o vale de Santa Cruz, onde corre o
rio Santa. Este local é o canhão do rio e ascendemos desde os 2900 m até aos
3800 m. Neste primeiro dia acompanhamos a chamada Quebrada de Santa Cruz, com
uma paisagem fabulosa. Mesmo antes de sairmos ingressou uma francesa no nosso
grupo. Afinal vamos ser três! O primeiro dia de trekking é acessível e fizemos
o percurso todo sozinhos porque o Demetrio (nosso cozinheiro) estava com
dificuldades para arranjar mulas. Sendo assim, nos autoguiamo-nos, sem mapa ou
bússola pelo meio da cordilheira. Graças ao nosso forte sentido de orientação
fizemos o caminho todo correcto e ao fim do dia alcançamos o primeiro acampamento,
no Llamacorral. Quando chegamos ao acampamento, Demetrio chegou logo atrás com
as mulas e o "arriero". Deitamo-nos com o Tauliraju ao fundo.

No dia seguinte começamos bem
cedo a caminhar e fizemos cerca de 14 km na Quebrada de Santa Cruz. A meio do
percurso fizemos um "side trip" para subir no caminho que leva ao
campo base do Alpamayo. Daqui as vistas são assombrosas e estamos rodeados por
vários nevados que oscilam entre os 5600 e os 6300 m de altitude. Descemos até
ao acampamento do segundo dia. Decidimos acampar cedo porque amanhã temos uma
ascensão difícil. Vamos fazer um passo a 4750 m de altitude. Neste segundo
acampamento dormimos mesmo na base do Nevado Tauliraju, a 4200 m de altitude e
durante a noite o frio faz-se sentir. Felizmente estamos bem equipados. Os
nossos sacos-camas são para -20C e temos roupa de qualidade (foi cara mas vale
bem a pena).

De manhã acordamos bem cedo e
partimos as 7.30 h em direcção a Punta Union. Demoramos cerca de duas horas a
subir até aos 4750 m. Foi duro, mas nada que se compare com o Inka Trail! Quando
chegamos ao topo desfrutamos das vistas avassaladoras sobre os nevados
circundantes, a quebrada de Santa Cruz e a Quebrada Huaripampa. Depois deste
passo deixamos para trás a Quebrada de Santa Cruz que nos acompanhou nos dois
primeiros dias. A descida da Punta Union pela Quebrada de Huaripampa também não
é "pêra doce". São 1000 m de desnível até ao acampamento de hoje, em
Cachinapampa. Pelo caminho continuamos a ver vários nevados e ao fim do dia surge
o glaciar de Paria. Mais uma vez, desterrados do esforço deitámo-nos no
acampamento a contemplar estas paisagens "hermosas" que o trekking
nos reservou.

No último dia terminamos com um
percurso de cerca de 2-3 horas pelo meio dum bosque de Quenuas (uma árvore
típica dos Andes) e pelos vários "pueblos" andinos até alcançar a
povoação de Vaqueria. Aqui, uma última subida debaixo de um sol abrasador é o
culminar de 4 dias de trekking.
Regressamos a Caraz, de jipe,
passando pelo passo de Llanganuco (4800m) e contemplando os cumes de alguns dos
mais famosos picos andinos, como o Chupicalqui e o Huascaran, de um lado, e os
Huandoy, o Pisco e o Chacraraju, do outro. De cortar a respiração esta vista,
mas ainda se torna melhor quando vemos no meio dos nevados as lagunas glaciares
de Llanganuco. Era indescritível a beleza natural desta região.
Foram quatro dias fantásticos nas
montanhas dos Andes. Ficou a pena de nos termos de ir embora tão rápido.
Gostávamos de poder fazer mais trekkings ou quem sabe tentar um cume!