A primeira visão que tivemos de Machu Pichu foi na Porta do
Sol, antes do nascer do dito cujo. Parecia (ainda) distante, pequenino e pouco
impressionante. Talvez devido as expectativas criadas nos três dias anteriores
de trek, ou às muitas ruínas visitadas, tanto no vale sagrado como durante o
trek, Machu Pichu não parecia nada especial.
Pouco a pouco, no entanto, conforme fazíamos a última descida
do trek, as nossas impressões foram modificando-se e a beleza e grandeza desta
cidade perdida foi-se impondo perante os nossos olhos. Três coisas são
verdadeiramente impressionantes neste local. Três coisas que, no fundo, são uma
só.
Por um lado, a envolvência natural. Rodeada de montanhas
verjantes (e alguns picos gelados) cujas vertentes se afundam vertiginosamente
em direcção ao Rio Urubamba, cidade e horizonte formam um só, facto este que,
obviamente, inspirou os seus construtores que até esculpiram uma rocha, em
pleno templo de Intihuana, com a forma das montanhas mais próximas.
Por outro lado, o aproveitamento útil e agradável que os
construtores da cidade fizeram das formações rochosas da própria montanha onde
se situa. A cidade cresceu a partir da montanha, utilizando os seus blocos de
pedra como sustento de terraços, casas e templos. Por exemplo, o templo agora
chamado de Pachamama (mãe-Terra) está construído em cima de rocha, por baixo de
rocha até tem blocos esculpidos e milimetricamente colocados entre rochas
naturais adjacentes.

Por fim, a localização da cidade, na fronteira entre os
Andes e a Amazónia, permite um clima favorável às colheitas e um semear
diferente conforme a altitude do terraço escolhido. Tudo isto demonstra um
facto inegável: os construtores desta cidade (inacabada), que tudo indica que
foram mesmo os Incas, viviam e construíam em simbiose com a Natureza, não a
destruindo para seu proveito mas vivendo em harmonia com Ela, adorando e
respeitando o Sol e a Terra, recolhendo os seus frutos e sabendo que o Homem
lhe deve a sua vida, e devendo por isso prestar-lhes a devida homenagem. E
essa, talvez, seja a maior lição que estas ruínas conseguem ainda nos dar neste
século XXI.